A Elizabeth desapareceu, Emma Healey (Marcador Editora, Editorial Presença)

Emma Healey @ Clube de Leituras
    A minha irmã trouxe-me este livro, dizendo que era perfeito para ler na longuíssima viagem de avião que me preparava para fazer. E estava certa. Assim que comecei a lê-lo, fiquei refém dele e tive dificuldade em interromper a leitura. A protagonista é Maud, que tem 82 anos e sofre de demência senil. Maud tem por sua conta dois mistérios por resolver: o desaparecimento da sua irmã mais velha, há já cerca de 70 anos, e, mais recentemente, o desaparecimento da sua amiga Elizabeth.
    Como sabe que tem problemas de memória, toma nota das coisas que quer recordar em pequenos papeis que guarda nos bolsos ou que deixa em qualquer lado e que vai encontrando ao longo do dia. As notas são, na sua maior parte, sobre a Elizabeth - «Não tenho tido notícias da Elizabeth»; «Não há sinal da Elizabeth» ou «A Elizabeth desapareceu». E sempre que encontra um bocado de papel com uma destas notas, inicia o processo de procura da amiga. Para além destas anotações, guarda várias coisas na carteira ou em pequenos frascos, um hábito que adquiriu quando a irmã desapareceu.
    Maud é apoiada por cuidadoras, que aparecem diariamente, pela filha e pela neta. Uma das cuidadoras passa o tempo a contar histórias assustadoras de velhinhas que foram assaltadas («Bom, há a situação de uma idosa que estava presa na cave, e os ladrões roubaram tudo, torturaram-na e prenderam-na, e ninguém soube que ela se encontrava lá. Durante dias e dias.»), o que, juntamente com as notas, com a incapacidade crescente da Maud  e com a divagação entre o passado e o presente, ajudam a criar o cenário meio esquizofrénico em que a história se desenvolve.
    Dado que regressa sistematicamente à procura da  amiga, leva o filho desta, bem como a sua própria filha, ao desespero. Como era previsível, o desaparecimento das duas é esclarecido no final e, de alguma forma, a procura de uma estava ligada à procura da outra.
    Embora a trama toda esteja muito bem estruturada, sentimos no final que há elementos que só então são esclarecidos e cuja omissão contribui para manter o mistério.
    Uma nota final para a personagem principal, a Maud, com a qual vamos criando uma imensa empatia, na certeza porém, que se tivéssemos que conviver com ela como a filha e a neta têm, manifestaríamos a mesma impaciência que elas só ocasionalmente manifestam.


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