Morte na Pérsia, Annemarie Schwarzenbach (Edições Tinta da China)

Annemarie Schwarzenbach @ Clube de Leituras
    Primeiro livro desta autora de quem pouco conhecia. Foi-me emprestado pela Catarina, colega da disciplina Escrita de viagem. Talvez por estar à espera de um livro de viagens, senti alguma dificuldade no início da leitura. Mesmo depois de ter lido a Nota prévia que avisa que este livro trará pouca alegria ao leitor. Não o poderá consolar nem reconfortar, como muitas vezes os livros tristes sabem fazer, (...)
     Só quando compreendi que a Pérsia funciona apenas como cenário para o profundo drama existencial que a autora vive, é que comecei a lê-lo com interesse e mesmo avidez. A sentir o que ela escreveu e absolutamente surpreendida pelo facto de ter sido escrito nos anos trinta do século passado (embora só tenha sido publicado em 1995) pelo arrojo que evidencia. 
    O livro poderia decorrer em qualquer outro lado que representasse o exílio, o afastamento, o desconhecido. O medo. («O perigo tem diferentes nomes. Por vezes, chama-se simplesmente saudades de casa, outras vezes, é apenas o vento seco das montanhas que acicata os nervos, outras vezes, o álcool, outras vezes, venenos mais letais ainda. Em certos momentos, não tem nome, nesses momentos somos acometidos por um medo inominável.») 
    Da Pérsia pouco ficamos a saber. Há algumas descrições, menção de algumas cidades ou paisagens e a afirmação de que «neste país temos de estar duas vezes certos das coisas que amamos». Mas é de alguma forma apenas um pretexto para uma viagem por dentro dela própria, uma forma de resistir ao medo que a acompanha sempre. A procura do amor:
    «Sabes bem que ninguém pode entrar no coração de outra pessoa e unir-se a ela, nem sequer por um breve momento. Mesmo a tua mãe deu-te apenas um corpo, e quando começaste a respirar, não foi ar que inspiraste, mas solidão.
   »Eu sei - respondi, - mas o nosso único consolo é o amor e ficar ao lado de quem amamos.»

    Tive de resistir à tentação de acumular frases roubadas mas acabei de o ler com a sensação que teria de começar de novo a lê-lo e relê-lo mais uma vez para o apreender totalmente.
    

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