O leitor do comboio, Jean-Paul Didierlaurent (Clube do Autor)

    Adorei receber este livro, porque já o tinha visto e tinha imensa vontade de o ler. Só pelo título. Adoro ler no comboio. Os meus dias começam melhor quando posso ir de comboio e aproveitar a viagem de Paço de Arcos até Santos a ler. Já fotografei pessoas a ler no comboio, sem que elas dessem por isso, já perdi a estação onde devia sair porque estava concentrada a ler. Já baixei a cabeça para não falar com alguém (desculpem-me), porque tinha mesmo de acabar um livro. Por todas estas razões, este livro suscitou-me imensa curiosidade e a sua leitura não me desiludiu.
    O leitor do comboio lê para os restantes passageiros páginas de livros que ele salva de serem destruídas numa máquina que recicla - destrói - livros. O trabalho intensifica-se com a aproximação do Salão do Livro de Paris: A rentrée literária de setembro e o período propício aos prémios existiam desde há muito. Tornava-se necessário arranjar espaço, esvaziar os expositores de tudo o que não se vendera.
    Não há uma introdução ao que o leitor vai ler, porque ele próprio não sabe, nem procura determinado tipo de livros ou autores. Apenas páginas de livros resgatadas do processo de destruição e lidas de manhã no comboio. Depois há as figuras excêntricas do seu reduzido círculo de amigos, as histórias que emergem desta viagem de comboio de casa para o trabalho e o próprio leitor que nunca teve coragem de dizer à mãe o que fazia e lhe mente, dizendo que trabalha numa editora invertendo justamente aquilo que faz.
    Gostei do livro mas tive pena que o autor não tivesse terminado de explorar algumas histórias ou, pelo menos, de abordar os efeitos da leitura. Os efeitos em quem lê ou ouve ler.
    A parte mais interessante é a máquina, que destrói os livros para editar novos, livros que nunca chegam a ser lidos e são logo substituídos por novos, numa metáfora sobre o mundo editorial atual («Ei! Senhor Vignolles, já viu os do prémio Renaudot do ano passado? Ainda têm a cinta vermelha, que tolos!»).

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