Em Nome da Filha, Carla Maia de Almeida (Fundação Francisco Manuel dos Santos)

A opinião do livro de Carla Maia de Almeida sobre violência doméstica, no dia oito de março, em celebração do dia da mulher, no nosso Clube de Leituras
    O tema é atual. Nunca deixa de o ser, mas Portugal está agora com uma atenção muito maior às questões de violência e, particularmente, violência doméstica. 

    Nesta hora que dobra o dia 7 em dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, despedimo-nos daquele que o governo decretou como Dia de Luto Nacional pelas (agora já) 12 vítimas mortais nos meros 66 dias que contamos desde a virada do ano. Foi por coincidência que o pequeno livro que é alvo de opinião nesta nova publicação me acompanhou hoje, sem saber ainda se lhe conseguiria pegar.
  Também abri-lo foi por um simples acaso - o de ter terminado o livro anterior (que aparecerá num outro post, posterior) -; já tê-lo terminado ainda hoje, escassas horas após ter iniciado a leitura, foi inevitável.
   Uma reportagem (assim lhe chama a autora) dividida em três partes: a primeira, a vida de uma filha que presenciou o assassinato da mãe pelo pai; a segunda, relatos de vítimas de violência doméstica, na altura em casas de abrigo; a terceira, a adaptação de um conto popular. As duas primeiras partes são testemunhos verdadeiros das vítimas, arrepiantes, comoventes, inacreditáveis, talvez, para quem lê desconhecendo essa realidade. Mas tão essenciais...
   Ao longo da segunda parte, a autora também menciona estudos e figuras de autoridade - psicólogos, sociólogos, entre outros - abordando a violência doméstica sob os seus vários prismas: as vítimas, não só mulheres, também homens, crianças, idosos; os agressores e a falta de apoio de que também sofrem; o stress pós-traumático. Acima de tudo, como entre contextos e perfis aparentemente tão distintos, as histórias podiam contar-se quase como uma só...
    Um livro que se lê de um só fôlego e que toca, toca tanto - e do qual não posso deixar de transcrever a ressalva da autora: «Gostaria de deixar claro que este livro não é contra os agressores, e muito menos contra os homens. A minha ambição é unir e não separar. Como todas as lutas culturais mais importantes dos últimos séculos (...) precisamos de contar com o empenho de todos nós, homens e mulheres, porque nunca seremos bastantes para mudar mentalidades. Essa é sempre a parte mais difícil e mais demorada».

«- A quem serve o amor?
- O amor serve o amor.»


    Quero deixar uma nota adicional para a beleza da escrita e do texto, bem como a revisão cuidada e o próprio design da edição. Nota máxima!

***

Comentários

  1. Gostei muito de ler este livro que, pelo tema, pela imensa atualidade e pela abordagem me tocou imenso. Gostaria contudo que o título fosse mais abrangente, Pelos filhos, por exemplo.
    Os filhos continuam a ser ainda pouco falados nesta equação dicotómica vítima/agressor, na qual participam também e ainda que possam aparentar não o ser, são sempre vítimas.

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