Chico Buarque

Imagem de Chico Buarque, vencedor do Prémio Camões 2019, no blogue Clube de Leituras
    Hoje não escrevo sobre um livro, mas sobre um músico e escritor: Chico Buarque, vencedor do Prémio Camões 2019.
     Chico Buarque foi escolhido por um júri indicado pela Biblioteca Nacional do Brasil, pelo Ministério da Cultura de Portugal e pela comunidade africana.
    Apesar de ser mais conhecido como músico, o Prémio Camões está longe de ser o primeiro prémio que recebe como escritor. Já tinha recebido o Jabuti,  em 2006 por Budapeste e em 2010 por Leite Derramado.
    Muito já foi dito sobre o prémio e o premiado mas não encontrei quem discordasse da sua atribuição. Chico Buarque faz parte das nossas vidas, de cá e de lá do Atlântico, e muito especialmente de quem fala, ouve e canta em português. Tive o enorme privilégio de o ouvir em 1980, na Festa do Avante, mas lembro-me dele desde sempre, a ouvir, ainda miúda,  A banda,e, depois do 25 de abril, o extraordinário Meu caro amigo.
     Se tivéssemos dúvidas sobre a atribuição do prémio, bastar-nos-ia lembrar de canções como Construção que acaba desta forma (para quem não se lembrar):

        «Amou daquela vez como se fosse máquina
        Beijou sua mulher como se fosse lógico
        Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
        Sentou para descansar como se fosse um pássaro
        E flutuou no ar como se fosse um príncipe
        E se acabou no chão feito um pacote bêbado
        Morreu na contramão atrapalhando o sábado.»

    Mas a música e letra mais fantásticas para mim são as do Geni e o zepelim, que começa assim:


«De tudo o que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Co'os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita para apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá para qualquer um
Maldita Geni

    Wagner Homem, no livro sobre Chico Buarque, explica que esta música é baseada na da prostituta do conto Bola de Sebo de Guy de Maupassant.
     Isto sem falar nas canções de amor, que as sei quase todas, palavra por palavra, mas de que destaco Beatriz - nome da minha mãe - que é imperioso ouvir, com atenção à música e à letra (diz se é perigoso a gente ser feliz). O problema com Chico Buarque é parar.

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