O Carteiro de Pablo Neruda, Antonio Skármeta (Editorial Teorema)

Opinião e resumo do livro de Antonio Skármeta, O Carteiro de Pablo Neruda, no blogue Clube de Leituras
    Reparei neste pequeno livro a espreitar-me da estante da minha avó. Reparei uma vez, voltei a reparar na semana seguinte, e novamente na seguinte, até que, por fim, me decidi a trazê-lo comigo. Trata-se de um livro pequenino e velhinho, daqueles já com manchas amareladas a contarem o tempo das páginas, que contam uma história que me recordo de conhecer de há muitos anos - não fora este o livro que deu origem ao filme homónimo, realizado por Michael Radford em 1994.
Neste romance, ficamos a conhecer a história de Mario Jiménez, que, em 1969, passou a ser carteiro na Ilha Negra, onde habitava apenas um correspondente: o poeta Pablo Neruda. Com o intuito de se fazer valer de uma relação de proximidade com o poeta para conseguir a atenção das mulheres, Mario Jiménez tenta que o escritor lhe faça uma dedicatória num dos seus livros. Acaba por lhe correr melhor. Ao entregar-lhe uma missiva que incluía uma carta da Suécia. o carteiro questiona Neruda quanto à sua avidez por começar por aquela carta. Assim entabulam conversa e, quando dá por si, Mario está a descobrir o que são metáforas e a desejar ter também o dom da palavra.

«- E para pensar ficas sentado? [...] Agora vais até à calheta pela praia, e enquanto observas o movimento do mar, podes ir inventando metáforas.
[...]
O carteiro Mario Jiménez tomou à letra as palavras do poeta, e fez o caminho até à calheta perscrutando os vaivéns do oceano. Embora as ondas fossem muitas, o meio-dia imaculado. a areia mole e a brisa leve, não floriu nenhuma metáfora. Tudo o que no mar era eloquência, nele foi mudez. Uma afonia tão enérgica que até as pedras lhe pareceram tagarelas em comparação.»

É então que Mario se perde de amores por Beatriz González e pede ajuda do poeta para que ela sucumba aos seus encantos, por meio das palavras, e, assim, formam os dois homens algo semelhante a amizade.
A narrativa desenrola-se num período político conturbado, no Chile, que serve de pano de fundo e de influência ao desenlace da história.

É um livro que se lê muito bem, pela sua simplicidade associada a uma beleza incomum de grande parte das frases que o constroem.
Foi uma boa surpresa!

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