Bom Dia, Tristeza, Françoise Sagan (A casa dos Ceifeiros)

   
Françoise Sagan "@ Clube de Leituras"    Dificilmente direi algo sobre este livro que não tenha sido já dito. A sensação que tive quando comecei a lê-lo foi que gostaria de o ter lido antes, provavelmente com a idade da Cécile («Naquele Verão, tinha dezassete anos e era totalmente feliz.»)
    Não quero com isto dizer que Bom dia, Tristeza seja um livro para jovens, bem pelo contrário, mas acho que se o lesse com essa idade teria uma compreensão mais completa dos estados de espírito de Cécile e, porventura, de mim própria. As flutuações de humor, a descoberta do outro e do amor e tudo o mais que acompanha essa idade entre a ainda infância e a quase idade adulta («O amor abrigava-me a viver de olhos abertos, na Lua, amável e tranquila.», pg. 129).
     No verão em que decorre a ação, Cécile, que tinha saído do colégio há dois anos, vive com o pai, que tem 40 anos e é viúvo desde os 25. O pai mudava de mulher de seis em seis meses e ela descreve-o como um homem bom, generoso e alegre. Vão de férias, juntamente com Elsa, a namorada do pai, e pouco tempo depois junta-se-lhes Anne Larsen, uma velha amiga da mãe de Cécile.
    Anne é uma mulher muito sedutora, elegante e indiferente. Como logo se apercebe Cécile, possuíam  todos os elementos de um drama: um sedutor, uma semimundana e uma mulher ajuizada. Apesar de não se incluir, Cécile é também parte deste drama, e uma parte ativa:

    «Neste apartamento em desordem, ora despido, ora inundado de flores, repleto de encontros e de sotaques estrangeiros, regularmente obstruído de bagagens, não conseguia incluir a ordem, o silêncio, a harmonia que Anne transportava consigo como o mais precioso dos bens» (pg. 150)

    Se o desfecho era previsível, não conseguimos deixar de nos surpreender com a facilidade e o pouco tempo em que, pai e filha, conseguem ultrapassar o que aconteceu, excetuando pequenos momentos em que a memória trai Cécile:

    «Dentro de mim, sinto subir algo que designo pelo seu nome, de olhos fechados: Bom dia, Tristeza.»

   Um livro que nos toca e surpreende apesar dos anos que conta.
   Uma palavra final para a edição, deliciosa, desta editora Casa dos Ceifeiros, que desconhecia. Junta ao livro o poema de Paul Éluard a que Françoise Sagan foi buscar o título Bom dia, Tristeza (surpreende-me a vírgula que não existe nem na versão francesa, nem no poema) e, no final, o Relatório de Censura de 1954 e uma pequena nota de Jorge Reis Sá. O livro tem também as belíssimas ilustrações de Mily Possoz, portuguesa de origem belga.

***

Comentários

  1. Li-o com essa idade e causou-me um forte impacto - primeiro porque me apercebia para onde se encaminhava a acção, o que ia suceder e sucedeu e depois porque o vi, como marcando para sempre a narradora, algo tão terrível que a mudou e marcou para sempre

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