Mensagem de uma Mãe Chinesa Desconhecida, Xinran (Bertrand Editora)

    Foi na Feira do Livro de Lisboa do ano passado que comprei este livro, e tem estado na minha estante desde então. Não é o primeiro livro que leio de Xinran - apesar de, pelos vistos, essa leitura ter sido anterior ao início deste blogue. A demora, neste caso, deveu-se ao facto de saber de antemão que seria um livro que, embora quisesse ler, me ia ser difícil fazê-lo.
    E foi.
   Como a própria autora explica, «Neste livro irá conhecer histórias dramáticas que narram o que tradicionalmente acontecia às bebés abandonadas e aquilo que continua a acontecer. [...T]omei a decisão de que, por muito que me custasse, iria escrever as histórias que tinha guardado durante tanto tempo. [...] Todos os nomes de pessoas e lugares foram alterados neste livro, de modo a salvaguardar a privacidade das mães biológicas. Contudo, as histórias são todas verdadeiras.»

      Xinran partilha com os seus leitores dez histórias de mães que tiveram, de alguma forma, de abdicar das suas filhas, entre as quais, a sua própria história. Apresenta, para isso, 3 motivos principais - a cultura, a ignorância e a política do filho único.
     Este livro é lindo, é aterrador, é uma agonia e um hino à vida e à coragem. E é tão duro. Mas a escrita é belíssima e, não querendo reduzir o âmbito do livro, deixo uma passagem que me marcou por permitir, de certo modo, compreender um pouco melhor particularmente os motivos cultural e de ignorância citados pela autora:

    «[...] para nós, camponeses, a ideia de que o nosso primeiro filho fosse uma menina era aterradora. Se isso acontecesse, significava que, durante uma geração inteira, ou mesmo várias, a família não podia andar na aldeia de cabeça erguida. [... S]e tivéssemos uma rapariga, não nos era atribuído sequer um pedaço de terra e tínhamos mais uma boca para alimentar. Depois, quando ela fosse adulta, tínhamos de pagar-lhe as roupas do casamento. Era uma desgraça o tempo todo.»

     Um livro que me custou (tanto!) ler, mas que é tão essencial...

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