The Madonnas of Leninegrad, Debra Dean

  
     Uma amiga perguntou à guia que a acompanhou na visita que fez ao Hermitage, em São Petersburgo, se lhe indicava um livro sobre a cidade e, especialmente, sobre o cerco de Leninegrado. É uma realidade de que pouco ouvimos falar, embora esteja ainda muito presente, mesmo nas gerações mais jovens que lá vivem. Anos terríveis de provação, mas simultaneamente de um enorme apego à vida e à preservação da memória. 
    Só isso explica que centenas de pessoas se tenham dedicado a retirar e a guardar as obras de arte, no Hermitage e noutros museus e palácios. É referido no livro que as guias no Hermitage decoravam as obras de arte e as respetivas localizações e, apesar das molduras vazias que permaneciam nas paredes, faziam visitas guiadas tão completas que sensibilizavam os visitantes. É também durante o cerco que Shostakovich compõe a Sinfonia n.º 7, também conhecida como a Sinfonia de Leninegrado, estreada em agosto de 1942. A sinfonia foi executada pelos músicos sobreviventes da Orquestra da Rádio de Leninegrado a quem era dada uma ração extra para conseguirem tocar. A sinfonia foi transmitida através de altifalantes pelas ruas de Leninegrado e ouvida também pelo exército alemão que cercava a cidade.
    Foi este o livro sugerido pela guia, The Madonnas of Leninegrad. Não foi traduzido para português apesar de ter uma crítica muito positiva. Curiosamente, é o primeiro livro de uma escritora americana que antes de o escrever nunca tinha visitado São Petersburgo.
    A ação decorre em duas épocas, que se vão alternando. Marina é a personagem central. Durante a Segunda Guerra, vive com os tios, nas caves do Museu Hermitage. Durante o dia retira e embala as telas ou vigia no telhado os bombardeamentos dos aviões alemães. O seu noivo está na frente e pouco sabe dele. Acompanhada de uma guia mais velha percorre as salas agora vazias do Hermitage, para decorar o que lá estava ou mesmo acompanhar uma visita de estudo. Na atualidade, Marina vive nos EUA e vai com o marido, aquele de quem se encontrava noiva durante a guerra, ao casamento da neta. Torna-se evidente para a família que ela padece de alguma forma de demência, confundindo presente e passado e deixando de reconhecer as pessoas mesmo as mais próximas.
    A ideia é fantástica, mas penso que na concretização há como uma pressa ou uma incapacidade de se deter nalguns momentos que me pareciam fundamentais. A precipitação da demência acelera o fim da história ficando pelo meio muitas pontas soltas, muitas histórias por contar ou pelo menos por acabar.
  

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