Elogio da palavra, Lamberto Maffei (edições 70)

Lamberto Maffei "@ Clube de Leituras"
    A leitura deste livro, Elogio da palavra, foi mais uma vez sugerido por uma amiga, que mo foi dando a conhecer à medida que ela própria o lia. Lamberto Maffei, o autor, é médico e cientista, ligado à neurociência e neurobiologia e, como é referido na introdução, sabe dirigir-se a leitores leigos na matéria.
    Com uma enorme simplicidade, sensibilidade e cultura, fala-nos sobre a palavra e a sua importância, mas simultaneamente interroga-se, interroga-nos, sobre as mudanças que assistimos com a introdução das novas tecnologias e como se irão repercutir na sociedade e também no nosso cérebro:
    "(...) Em particular, quero analisar e refletir sobre a atitude de fuga em relação à palavra e à conversação, que muitas estatísticas revelam ser maciça entre os jovens e não só. Questiono-me naturalmente sobre o que acontecerá quando os jovens utilizadores de smartphones forem progenitores e deixar de haver o buffer, a modulação mitigada das gerações. Que modificações poderão vir a ocorrer nos centros da linguagem falada do hemisfério esquerdo do cérebro?"
    Começa por falar-nos na palavra como tradutora do pensamento e depois das línguas e o que elas representam. Segundo o autor, as línguas não são apenas um meio de comunicação, representam uma riqueza de tradições e de história. "(...) A evolução demorou milénios a modificar o cérebro para dar a palavra ao homem. Este, depois, inventou a escrita para que as palavras tivessem significados permanentes e fossem prótese da memória e , mais recentemente, inventou o texting (...)"
    Propõe por isso a escola da palavra para os jovens, mas também como terapia da demência, como forma de abrandar o declínio cognitivo.
    Não resisto a roubar o final:
    "(...) As palavras são a minha memória, a minha narrativa: sou feito de palavras, porventura silenciosas; o pouco que sei são palavras, cadeias de acontecimentos que regressam na sua sequência não apenas gramatical e sintática, mas na lógica racional ou irracional da recordação, e me refazem o mundo e me narram de novo. De resto, o milagre da evolução gerou as palavras para que o homem possa narrar, para que na sucessão das gerações não se perca o património das experiências vividas. Que seria do homem sem as palavras?"
   

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