Cebola crua com sal e broa, Miguel Sousa Tavares (Clube do Autor)

    Li recentemente partes do livro Sophia de Mello Breyner Andresen de Isabel Nery. Um livro interessante que desvenda a personalidade e a vida de Sophia, para além dos muitos aspetos que são do domínio público. Fiquei com curiosidade de ler este livro sobretudo pelos cruzamentos com o anterior.     
    Mas confesso que, mesmo não sendo as expetativas muito elevadas, foi uma desilusão. Logo na contracapa pergunta o seguinte: Pode um homem viver impunemente começando a sua infância numa aldeia do Marão, comendo cebola crua com sal todas as merendas? Ora, o "menino Miguelinho" como era designado, não comia esta merenda porque não houvesse mais que comer na casa dos tios onde viveu alguns anos, mas porque gostava. Tal como gostava de comer com os trabalhadores agrícolas na casa, onde para além dos tios havia ainda o pessoal doméstico - a cozinheira, as ajudantes, as raparigas da casa (uma por cada membro da família). Fico por isso sem perceber a questão. Se queria falar da liberdade que sentia então em contraste com o ambiente que encontrou no regresso a Lisboa, comer cebola com sal não será por certo a imagem mais adequada.
    Ao longo do livro acompanhamos a vida do autor, num registo autobiográfico mas que não consegue escapar ao registo jornalístico, como quando conta que recusou a integração e demissão da função pública e daí salta para a atualidade [Trinta anos e duas falências públicas depois, constato que a base de sobrevivência do atual (2018) governo PS, de António Costa, é a disponibilidade, exigida pelos seus parceiros, para aceitar integrar na Função Pública...]. 
    Numa autobiografia o autor é o protagonista ou, frequentemente, o herói da história. Neste livro, ele é o herói não apenas por ocupar o lugar central mas porque, com raríssimas exceçoes, é isento e desinteressado, contrastando com todos os demais. 
     Nem alguns episódios que relata, como a mãe, Sophia, a recitar um poema no eléctrico  ou o eterno candidato ao trono a perguntar quem é Fernando Pessoa salvam o livro.

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