O custo da vida, Deborah Levy (Relógio D'Água)

    Recebi este livro no Natal. Não conhecia a autora, nem tinha lido qualquer crítica ao livro. Confesso que o início da descrição na contracapa não me seduziu particularmente:
   "Um manifesto moderno, vital e empolgante sobre as políticas do feminismo..."
    Não me apetecia ler um manifesto (apesar de não perceber exatamente o que se pretende dizer com esta indicação) mas "O Custo da Vida" não é, nem me pareceu que tivesse sequer essa intenção, embora seja uma reflexão  sobre o papel da mulher na sociedade atual e, sobretudo, nas relações familiares e no casamento. 
    Logo no início do livro, fala num colega que se esquecia da maior parte dos nomes das mulheres que conhecia em ocasiões especiais (Quem somos nós, afinal, se não temos um nome?),  mais à frente fala num homem que conhece no comboio que fala na esposa sem a nomear, contudo, ela opta por nunca nomear os homens de que fala e que designa como "o meu melhor amigo" ou "o homem que tinha chorado no funeral" ou "o homem que nunca olhava para a esposa" ou "o pai das minhas filhas". Apesar de não terem nome, essas indicações individualizam-nos mais expressivamente que se os tivesse nomeado o que acaba por redundar numa contradição com o que tinha afirmado ou pretendia provar.
    Curiosamente as críticas e recensões que li sobre o livro depois de o acabar, oscilavam entre a crítica demolidora e o deslumbramento.
    Para mim, está justamente no meio. 
    Mais do que uma autobiografia é um diário de uma mulher (a autora) que tem 50 anos, acabou de se divorciar, muda de casa para um apartamento cheio de problemas, com apenas uma filha - a outra entrou na faculdade - e cuja mãe adoece mortalmente pouco tempo depois. Obviamente isto é muito e é pouco. É muito para quem vive estas mudanças radicais na vida, é pouco para só por si justificar o interesse na leitura de um livro. Mas Deborah Levy consegue manter o interesse do leitor e, penso que não apenas do leitor que se identifica com as situações vividas e escritas, salpicando o livro com pequenas histórias, reflexões e referências  a outros autores, misturadas com banalidades:
    "(...) Só existe dois tipos de lares: os lares unidos e aqueles em que impera a desunião. Foi a história patriarcal que se desfez. (...)"
     Mas confesso que gostei de o ler.

***

Comentários

  1. Ignorava que o Custo da Vida fosse o segundo livro de uma trilogia. Fiquei a sabê-lo lendo o artigo de Isabel Lucas “Uma escritora contra o normal” publicado no Ipsilon de 1 de outubro de 2021. Fico com pena de não ter lido a trilogia pela sua ordem e hesito agora se devo ler o primeiro volume - Coisas Que Não Quero Saber -, ou saltar diretamente para o terceiro - Direito de Propriedade. Também aqui há um recomeço de vida como acontecia n’ O Custo da Vida.

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