Os Sertões, Euclydes da Cunha (Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro)

    Depois de ter lido "A Guerra do Fim do Mundo" de Mario Vargas Llosa fiquei com curiosidade de ler este livro, Os Sertões, publicado em 1902.
    Euclydes da Cunha, o autor, cobriu a guerra de Canudos como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo e mais tarde publicou este livro que fascinou Mario Vargas Llosa e outros autores, como Sándor Márai, que escreveram igualmente livros sobre esta guerra. Este último, autor de Veredicto em Canudos, depois de ler Os Sertões, disse que era como se tivesse lá estado.
    Uma amiga trouxe-mo do Brasil, tendo comprado-o no sebo (em 2.ª mão), designação tão expressiva que não carece de explicação. 
     Confesso que não foi fácil de ler e que usei o meu direito de leitora de saltar páginas. 
    Conforme é referido no Guia de leitura, no final da edição, Os Sertões faz parte do ensaio de interpretação do Brasil, daí que o autor comece por descrever a terra, o clima e a geografia, depois o homem, o jagunço e o sertanejo. É neste capítulo que descreve detalhadamente António Conselheiro, figura central desta guerra, que descreve como um gnóstico bronco, chegando a titular um subcapítulo "Como se faz um monstro". Avança então para os confrontos, descrevendo detalhadamente as quatro expedições contra Canudos.
    No final do século XIX, António Conselheiro criou no interior do estado da Baía uma comunidade com cariz religioso que rapidamente reuniu à sua volta milhares de pessoas, pobres, famélicas e descrentes do recém instaurado regime republicano. Esperavam ainda pelo regresso de D. Sebastião. Os grandes proprietários da região, juntamente com a Igreja, pediram a intervenção do exército, mas foram necessárias quatro expedições para vencer aquelas pessoas sem quaisquer meios mas unidas pela fé ou pela crença naquele homem.

    Para além da história, escrita num tom jornalístico, a parte inicial do livro está claramente datada, como quando fala do português do Amazonas, "A raça inferior, o selvagem bronco, domina-o;" ou quando conclui que "o mestiço é, quase sempre, um desequilibrado".
    Mas, a dada altura, conclui - e talvez esta seja a mensagem mais importante - que "era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda tenaz, contínua e persistente, visando trazer para o nosso tempo e incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários."

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