Os Últimos Sete Meses de Anne Frank, Willy Lindwer (Vogais)

Anne Frank @Clube de Leituras
    Não posso deixar de apresentar este livro como ele se me apresentou, ou seja, com uma passagem da contracapa:

    «Em 1988, Willy Lindwer, cineasta holandês, realizou um documentário televisivo intitulado Os Últimos Sete Meses de Anne Frank, pelo qual receberia um Emmy. Impressionado com as entrevistas que levou a cabo com seis mulheres que viveram e partilharam com Anne Frank os dias de horror nos campos de concentração nazis, Lindwer deciciu publicá-las integralmente, dando origem a este livro


    Se fiquei curiosa porque, claro, li o Diário de Anne Frank ainda em miúda (versão inicial e versão alargada, publicada posteriormente), e queria saber o que acontecera a seguir à sua captura, não esperava que este livro me tocasse tanto. Como o autor relata no Prefácio:


«Este livro é, portanto, acima de tudo, um registo histórico da coragem das mulheres que aqui contam as suas experiências dramáticas. [...]    [F]oram precisas muitas conversas preliminares antes que estas entrevistas pudessem ser gravadas. Ao relatarem as suas memórias, as mulheres sujeitaram-se a um enorme stress emocional e psicológico. Mesmo assim, prevaleceu a necessidade de partilharem as suas histórias.»


   A verdade é que não se trata de uma história romanceada, com base em factos verídicos. Trata-se de um conjunto de narrativas na primeira pessoa que constituem esses mesmos factos. Não há qualquer tipo de clemência para o leitor - as coisas são contadas como se passaram.
   Fiquei a conhecer muitas coisas que desconhecia, as próprias protagonistas respondem a diversas questões que surgem a quem não viveu esse período... E partilham os seus momentos mais dolorosos, mais aflitivos, mais desconcertantes.
    Foi um privilégio para mim poder ler estes testemunhos e, mais ainda, conhecer as histórias de quem viveu os tormentos dos campos de concentração, nas suas mais variadas versões, e, além de sobreviver, teve a coragem de revisitar esses momentos para os poder partilhar quem não sofreu essa experiência.


    «Discriminar alguém por causa da cor da pele, das orelhas, do cabelo ou de sabe Deus o quê, pode fazer com que possamos morrer por causa disso. Basta uma pessoa dizer:    - Ele não é tão bom como eu, porque tem...    Pode acrescentar o resto. [...]   [F]oi um momento tão irreal e catastrófico da minha vida que não há hipótese de aceitação. Um pequeno movimento, um barulhinho ou o cheiro de comida queimadas e regresso imediatamente àqueles campos. Podemos falar sobre o assunto, mas ninguém consegue aliviar-nos disto. E, neste aspeto, os fascistas alcançaram uma vitória mundial.»


       Aconselho a leitura.



***

Comentários

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)