Alias Grace, Margaret Atwood (Virago)

    Como fã que sou da série da Hulu, The Handmaid's Tale, baseada no romance homónimo de Margaret Atwood, ao saber que a Netflix ia estrear uma série baseada num outro romance da autora, Alias Grace, decidi que, desta vez, conheceria primeiro o original.
    E foi na língua original que optei por lê-lo.
    É um livro que se lê muito bem, de escrita simples, e, como eu gosto, com base em factos reais. Nos anos 1840, Grace Marks ficou conhecida pelo seu potencial envolvimento no homicídio do patrão, Mr. Kinnear, e da sua governanta, Nancy Montgomery. A culpabilidade nunca foi totalmente esclarecida. Sabe-se que Grace esteve presente durante os homicídios, mas não se participou neles ou se foi meramente uma testemunha. James McDermott, que foi considerado culpado e condenado a morte por enforcamento, trabalhava na mesma casa e, na sua confissão, envolveu definitivamente Grace. Aliás, foram ambos encontrados numa estalagem em Lewiston, presos e levados juntos de volta a Toronto, sendo que Grace estava vestida com as roupas da falecida Nancy e que se havia registado com o nome Mary Whitney. Grace acabou por ser condenada a prisão perpétua, mas foi perdoada após quase 30 anos. Foi para Nova Iorque e o seu rasto foi perdido.
   Neste romance, Atwood procura reconstruir os acontecimentos da vida de Grace Marks, desde a infância até à sua libertação da penitenciária. A obra envolveu pesquisa dos documentos disponíveis sobre os homicídios, alguns deles também já obras ficcionadas ou, pelo menos, especulativas.
   O romance começa com Grace já presa há uns bons anos, e a sua história acaba por nos ser contada pela voz da própria, nos relatos que faz ao Dr. Simon Jordan, um psiquiatra que pretende estudar a mente de criminosos famosos para compreender os seus mecanismos de pensamento. A personagem do Dr. Jordan é totalmente inventada, mas procura mostrar os primórdios da psiquiatria. Um argumento adicional para esta avaliação é a existência de um comité que pretende provar a inocência de Grace, pedindo, para isso, o parecer do especialista.
    Apesar de bem escrito, não posso dizer que tenha adorado o livro, e isso por dois motivos principais. O primeiro é que a opção da autora sobre o que se passou na altura dos homicídios ficou muito evidente desde cedo na narrativa, e não creio que de forma intencional. Isso fez com que mais do que procurar a resposta por mim, desse por mim a tentar encontrar os elementos escondidos que provassem a teoria. Não trouxe surpresa. Por outro lado, a par da narrativa de Grace, vamos seguindo episódios da rotina do Dr. Jordan. Essas passagens em nada contribuíam para o desenrolar da história e pareceram-me, as mais das vezes, desnecessárias.
    Entretanto já vi a série. Está muito fiel ao romance, mas liberta-nos desses episódios secundários. Para os curiosos (e ao contrário do costuma acontecer), aconselho que vejam antes a série.

***

Quero ler este livro!

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