O anjo literário, Eduardo Halfon (Cavalo de ferro)

    Comprei este livro quase por acaso, na feira do livro da Snob na Cossoul, antes daquela mudar para as novas instalações. Não conhecia o autor, nem nunca tinha ouvido falar deste título que jazia numa pilha de livros, mas bastou-me ler a contracapa para ficar com curiosidade:
    "(...) Porque é que alguém começa a escrever? Existirá o momento da primeira inspiração literária, de um despertar narrativo?"
    O autor, guatemalteco, Eduardo Halfon, desvenda os primeiros passos de alguns dos seus escritores favoritos, Herman Hesse, Ernest Hemingway, Raymond Carver, Ricardo Piglia e Vladimir Nabokov. O anjo literário é a imagem que escolhe para iustrar a inspiração ou, melhor ainda, para o que designa de detonadores literários:
    "(...) O anjo literário - anjo caído, talvez luciferino, mas anjo, no fim de contas - não tem horários fixos, nem momentos planificados. Voa por cima de um infeliz qualquer quando lhe apetece e ponto. Às vezes, esse anjo é perceptível. Às vezes, disfarça-se. Às vezes, o seu voo é tão fugaz e silencioso que nunca ninguém ficou a saber que passou por ali, espargindo palavras mágicas sobre uma qualquer vítima e deixando legiões de futuros leitores na perplexidade absoluta, porém, felizes."
    Ou, como vai repetindo "(...) um anjo recorda-nos tudo aquilo que esquecemos."
    O livro tem momentos absolutamente fascinantes, mas são, justamente, momentos. E no conjunto parece, como o próprio autor menciona, um mosaico, mas, parece-me que nem cada parte do mosaico é absolutamente conseguida. Senti que lia momentos, apontamentos apenas e nunca um todo. Talvez isto aconteça porque o autor, Eduardo Halfon, conhece as biografias e episódios daqueles autores que nós, leitores - ou pelo menos eu - desconhecemos. Apesar de dedicar ou iniciar cada capítulo com um dos autores, vai misturando as suas histórias com a sua própria história e convocando ainda outros autores.
    Mas talvez esta sensação decorra da quase impossibilidade da missão a que o autor se dedicou. No meio ficam excertos ou citações que não resisti a roubar. Aqui ficam algumas:
    "(...) Escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos (...)" (Marguerite Duras).
    "(...) a realidade é só o prego no qual se pendura a literatura." (um dos Alexandre Dumas).
    "(...) não inventamos nada, julgamos inventar quando, na realidade, nos limitamos a balbuciar a lição, os restos de uns trabalhos de casa aprendidos e esquecidos, a vida sem lágrimas, tal como a choramos." (Beckett)

***

Comentários

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)