A Letra Encarnada, Nathaniel Hawthorne

A Letra Encarnada de Nathaniel Hawthorne tradução Fernando Pessoa
 
  Há algum tempo que andava curiosa por ler este livro, essencialmente porque é considerado «o» romance clássico americano, frequentemente mencionado e retratado em filmes e séries americanas, apesar de pouco falado por estes lados.
    Não resisti quando o vi à venda e percebi ser uma tradução de Fernando Pessoa, e foi o livro que li durante a minha semana de férias.
    É um romance claramente datado, abordando uma realidade de há alguns séculos que, atualmente, já pouco se verifica (infelizmente, ainda não totalmente abolida). O tema do romance é o adultério. Em Boston, ainda no século XVII, Hester Prynne é acusada de adultério, depois de dar à luz uma menina, estando o seu marido desaparecido há alguns anos. Como consequência, é obrigada, após uma estada na prisão, onde a menina nasceu, a ficar de pé perante a comunidade, com a letra «A» bordada ao peito, letra essa que deverá usar para o resto da vida, como penitência pelo seu pecado. Enquanto ali se encontra, o pároco pede-lhe que dê o nome do homem que contribuiu para a sua desgraça e que deverá. também ele, ser punido, mas Hester recusa-se a nomeá-lo. E, para aumentar mais o seu infortúnio, vislumbra, por entre a multidão, o seu marido, regressado não se sabe de onde e irreconhecível aos olhos de todos menos aos seus.

   A partir daqui, Hester deverá procurar o seu lugar na comunidade, juntamente com a filha, Pearl, marcada desde a nascença pelo pecado da mãe. Ao mesmo tempo, apresentando-se como médico, de nome Roger Chillingworth, o seu marido define como missão encontrar, expor e destruir aquele que arruinou a sua mulher e, por arrasto, ele mesmo.

«Uma coisa, tu que foste minha mulher, quero eu que tu faças [...]. Guardaste o segredo do teu amante, guarda, também, o meu! Ninguém há nesta terra que me conheça. Não digas a alma viva, nem em segredo, que alguma vez me chamaste marido! Aqui, nesta orla estranha da terra, armarei minha tenda, pois, vagabundo em outras partes, e separado dos interesses humanos, aqui tenho uma mulher, um homem, uma criança, a quem grandes laços me ligam. Não importa se são de amor ou de ódio, se são de bem ou de mal! Tu e os teus, Hester Prynne, me pertencem. Meu lugar é onde estiveres, e onde estiver ele. Porém não me traias!»
   É um livro que se lê bem, com uma bonita prosa poética, mas que, como disse, é muito datado. Confesso que em alguns momentos me ri com o exagero da solenidade dada ao tema, enquanto noutros apenas revirei os olhos, impaciente com as lições de moral - particularmente porque dirigidas na sua essência à mulher.

   Não deixa de ser uma obra a conhecer e cuja leitura aconselho.


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