Os Sobreviventes, Alex Schulman (Porto Editora)

Os Sobreviventes

     Confesso que conheço poucos autores suecos. Para além dos clássicos, Strindberg e Selma Lagerlof, só conheço autores policiais. Gosto especialmente dos livros de Camilla Lackberg, que leio sobretudo no verão, porque preciso de tempo para poder ler sem interrupções. Não li, porque antes já tinha visto, a Trilogia Millenium, de Stieg Larson, cujas imagens me assombraram durante algum tempo.
     Não sei se foi por isso que ao ler Os Sobreviventes senti que a influência dos livros policiais e de suspense tinha marcado demasiado a escrita deste romance. Logo no primeiro capítulo é dito:

     «O que está a acontecer nestas escadas de pedra, onde os três irmãos estiveram a chorar com caras inchadas e ensanguentados, é apenas o último círculo na água, o círculo mais afastado do ponto onde a pedra se afundou».

    Este tipo de afirmações é recorrente, criando no leitor a dúvida e a expetativa sobre o que estará na origem da animosidade entre os irmãos. A estrutura de Sobreviventes ajuda à criação dessa expetativa porque, tendo duas partes (A casa de campo e O outro lado da estrada de terra batida), está dividida em capítulos que se alternam entre si, um com a contagem decrescente em horas do dia em que vão sepultar as cinzas da mãe e outro com capítulos alusivos à infância e juventude dos três irmãos.
    Como é dito na contracapa, três irmãos, Nils, Benjamin e Peter regressam à casa de campo junto ao lago onde vinte anos antes um terrível acidente aconteceu e mudou as suas vidas para sempre. Levam com eles as cinzas da mãe que, surpreendentemente para os filhos, não pediu para ser sepultada ao lado do marido. O acidente, numa estação de eletricidade, causou queimaduras em Benjamin e Peter e, segundo se recorda Benjamin, a morte de Molly, a cadela. Mas mesmo antes do acidente, a relação entre os irmãos não é normal, Nils chega a confessar que desejava a morte do irmão todos os dias e que sentiu alívio quando pensou que ele tinha morrido. A competitividade instilada pelos pais que, simultaneamente, pareciam absolutamente negligentes com os filhos, contrasta com outras atitudes de preocupação e afeto. Confesso que apesar da enorme curiosidade que tive e que me levou a ler os Sobreviventes muito rapidamente, não me convenceu. Senti falta de coerência na história, nas personagens e na sua relação. E sobretudo quanto ao acidente e à memória do mesmo. É possível criar e conservar uma falsa memória, mas parece-me difícil que ela persista quando os demais sabem exatamente o que se passou.   Aliás, o subtítulo que aparece na capa - Há mentiras que, com o tempo, se transformam em verdade - não corresponde de todo à história. 
    Apesar disso, é um livro bem escrito, e com alguns momentos de cumplicidade entre os irmãos, sobretudo durante a infância e perante a morte dos pais, com os quais qualquer fratria se reconhece. E também na música que escolhem para a viagem: It's a perfect day, de Lou Reed, e que cantam em conjunto:

    «Oh, it's a perfect day, I'm glad I spent it with you.»

***

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