A Balada dos Pássaros e das Serpentes, Suzanne Collins (Editorial Presença)

    Sou fã da saga de Hunger Games (Jogos da Fome, em português). Devorei a trilogia, há anos, e adoro as adaptações para cinema (fiéis e muito bem conseguidas e interpretadas, na minha opinião). E, por isso, quando soube que ia sair uma prequela da saga, soube que tinha de a ler - idealmente antes de ver o filme no cinema. Esse era o plano; no entanto, idas ao cinema não estão fáceis, de momento. Nem leituras. 
    Se há coisa de que sinto falta, é de tempo para me sentar simplesmente a ler um bom livro, sem preocupações com a lista das tarefas pendentes. 
    Graças a uma amiga, acabei por me render aos audiolivros e "ler" este livro no que intitulei de "método híbrido" - ler uma a duas páginas nos raros momentos em que isso se proporciona, e aproveitar tarefas, viagens e afins para que um narrador me leia o mesmo livro. Gostei do resultado, e assim continuo, agora com outros títulos.
    Em relação a A Balada dos Pássaros e das Serpentes, apesar de ter sabido bem voltar ao universo Hunger Games, achei o romance fraco. É, no fundo, uma história de paixão improvável entre dois jovens: o mentor Coriolanus Snow, de uma antiga família de prestígio, ambicioso e desejoso de retomar a glória associada ao nome que a Guerra entre os distritos e o Capitólio destruíra; e, Lucy Gray Baird, uma artista itinerante, selecionada como tributo feminino do Distrito 12 para os Décimos Jogos da Fome.
    Na altura, os Jogos ainda estão em construção, com muita coisa a ser pensada e testada. Não existe adesão da população para ver 24 crianças e jovens matarem e morrerem na Arena, não existe uma noção clara da necessidade de haver esses jogos. São assim convocados 24 jovens da Academia para serem mentores dos 24 tributos. O mentor do tributo vencedor receberá todo o mérito dessa vitória.
    Inicialmente desiludido com a sua tributo, Coriolanus acaba por se envolver demasiado com Lucy Gray, ainda antes da entrada desta na Arena. Não é o único. Vários mentores acabam afetados de uma maneira impensada pelos Jogos. 

    «Coriolanus sempre entendera a possibilidade de ser mentor como uma honra. Uma forma de servir o Capitólio e talvez conquistar um pouco de glória. Mas (....) se a causa não era honrosa, como podia ser uma honra participar nela? Sentiu-se confuso, depois manipulado, depois desprotegido. Como se fosse mais um tributo que um mentor.»

       Nenhum tanto, porém, como o seu colega Sejanus.
    Sejanus, atualmente no Capitólio, é originário do Distrito 2. Os Jogos da Fome são-lhe, assim, particularmente penosos. Mais se o tornam quando ele é nomeado mentor de Marcus, um antigo colega dele, Tributo masculino pelo Distrito 2. Sejanus considera Coriolanus o seu único amigo, e Coriolanus apresenta-se como tal - mas é uma farsa, a máscara que usa para, sempre, sair por cima. O lema dos Snow é, aliás, esse mesmo: «Snow cai como a neve, sempre por cima de tudo».
     Coriolanus vê-se também caído nas boas graças da Dra. Gaul, a profundamente perturbadora e sádica Chefe dos Produtores dos Jogos. A Dra. Gaul quer trazer os Jogos para a ribalta e não olha a meios para o fazer. Entende-os necessários e delega nos alunos da Academia a tarefa de pensarem em como atingir esse objetivo. O seu interesse em Corionalus mantém-no na corrida para o regresso do prestígio da família Snow, contra o constante desdém do Diretor Highbottom, que carrega consigo uma uma clara antipatia contra o seu aluno, que acabamos por perceber vir já dos tempos em que fora amigo do pai dele.

      «Escondeu a cabeça nas mãos, confuso, zangado e, sobretudo, assustado. Com medo da Dra. Gaul. Com medo do Capitólio. Com medo de tudo. Se as pessoas que deviam protegê-los brincavam com as suas vidas daquela maneira... então como poderiam sobreviver? Não confiando nelas, claro. E se não podiam confiar nelas, em quem podiam confiar? Ninguém sabia.»

    Conquanto a história tenha todas estas (e mais) nuances, são na sua maioria clichés e pouco exploradas. Tal como senti com o segundo livro da saga original, o fim é precipitado, quase parecendo que a autora já estava farta de escrever e queria terminar. Não ficam perguntas por responder, mas as respostas às perguntas são fracas, pouco exploradas ou altamente previsíveis. Gosto de narrativas que me surpreendam e a verdade é que já estava a antecipar o desfecho deste romance desde o meio dele. Mesmo a ligação entre este romance os anteriores (posteriores, em termos de história) é pouco credível, a começar pela idade que o Presidente Snow tem, 64 anos após este romance (em que já tem 18).
      Valeu pelo regresso ao universo, valeu pelas sementes daquilo que vieram a ser os Jogos aquando da saga de Katniss e Peta.
    Infelizmente, mesmo com a ajuda do Audible, não me despachei a ler e não consegui ver a adaptação ao cinema. Aguardo agora que chegue a algum Streaming.


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