A Família Netanyahu, Joshua Cohen (D. Quixote)

A Família Netanyahu
    O meu irmão, que habitualmente acerta nos livros que escolhe para me oferecer, deu-me A Família Netanyahu no Natal. Na altura a situação que se vivia em Gaza já era absolutamente chocante, mas ainda estava distante do horror dos números atuais. Hoje ficou-se a saber que nos quatro primeiros meses do conflito em Gaza foram mortas 12 300 crianças, mais do que as crianças mortas em todas as guerras combinadas de 2019 a 2022. E hoje também vimos na televisão o primeiro-ministro Benjamim Natanyahu recusar todos os apelos da comunidade internacional reafirmando que não parará.

    Hesitei antes de começar a ler o livro e depois de o ler demorei vários dias antes de me decidir a sentar e a escrever sobre ele. O facto de ter ganhado o Prémio Nacional do Livro Judaico, para além do Prémio Pulitzer, ainda aumentou a minha hesitação. Porque razão o Prémio Nacional do Livro Judaico seria atribuído a um livro que não fizesse os leitores simpatizar com esta família ou pelo menos com o seu filho mais conhecido, Benjamim, que é há já vários anos o primeiro-ministro de Israel? O livro é apresentado como o «Relato de um episódio menor e no fundo insignificante da história de uma família muito famosa» deixando perceber antecipadamente que por pior que seja o episódio é, na realidade, pouco importante. A máxima «Falem bem ou falem mal o que importa é que falem» aplica-se neste caso. 

    A história pode resumir-se em poucas linhas: Um professor judeu de história da universidade de Corbin é encarregado de receber em sua casa Benzion Netanyahu, um académico israelita exilado especialista na inquisição da Península Ibérica, que irá dar uma aula e ser entrevistado para um lugar de professor. Benzion chega acompanhado pela família, a mulher e os três filhos. A família é descrita como sendo absolutamente disfuncional e os filhos como mal-educados. Se a família do professor que os acolhe está em crise, a família Netanyahu desafia todos os códigos e regras de relacionamento, tanto a nível familiar como profissional. O tom verdadeiramente obcecado do pai, que chega a referir depois de manifestar desprezo por todos os outros professores, que «só um judeu pode julgar um judeu», pode explicar, mas não justificar, o trajeto dos filhos.

    A história termina por surpreender, o tom da escrita é irónico e mordaz, contudo, há partes excessivas ou demasiado longas, como a carta que recebe de um outro professor sobre o pai Netanyahu e a aula e a entrevista na universidade.

    Admito que não tenha conseguido apreciar o livro pelas suas personagens.

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