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Acabámos de ler:

Que ce soit doux pour les vivants, Lydia Flem (La Librairie du XXI siècle)

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         Que ce soit doux pour les vivants (título que tento traduzir sem conseguir encontrar as palavras certas: Que seja doce para os vivos? Que seja suave para os sobreviventes? Que seja doce para os que sobrevivem?) foi-me recomendado por uma amiga que passou recentemente pela perda dos pais. Quando me recomendou a leitura, disse-me que o livro lhe foi oferecido por um irmão e que a ajudou no desconforto que sentiu a desmanchar a casa dos pais.     O livro não está traduzido para português – mas justificava-se que fosse – e foi editado 20 anos depois do livro Comment j’ai vidé la maison de mes parents. Conforme escreve Lydia Flem, o título do livro advém de uma frase dita por Maurice Olander, com quem vivia, pouco antes de morrer: é preciso que seja doce para os vivos. Mas considera que ainda não é o tempo para falar dele, para falar deles enquanto casal, por isso a Autora prossegue a escrita do livro anterior e regressa à casa dos pais.   ...

Combats et métamorphoses d'une femme e Qui a tué mon père, Édouard Louis

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     Entrei fora de horas, numa livraria, em S. Martinho do Porto. Ia sem objetivo certo, a fazer tempo numa noite de verão pouco estrelada e muito ventosa. Numas prateleiras, perto da caixa, encontrei vários livros deste autor, Édouard Louis, de que nunca tinha ouvido falar. Falo em conjunto dos dois livros porque me parecem quase a continuação um do outro.  São pequenas edições, em formato de livro de bolso. Li primeiro o Combats et métamorphoses d'une femme - que se encontra traduzido para português por uma editora brasileira -.      Num estilo que lembra o de Annie Ernaux, começa com a descrição de uma fotografia da mãe, de quando tinha vinte anos, e é essa imagem dela, ainda jovem, sedutora, que o faz pensar que ela já teria sido livre, antes do seu nascimento, e o faz perceber que os vinte anos que a mãe viveu com o marido, uma relação marcada pela violência, não era natural. Relata depois vários episódios, fazendo um mosaico da vida familiar e ...

Dedico-lhe o meu silêncio, Mario Vargas Llosa (Quetzal)

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      Talvez todos os escritores sejam irregulares na escrita ou talvez sejam os leitores que oscilam na apreciação da sua obra, gostando de alguns livros e depreciando outros sem que haja uma verdadeira razão para tal. É o que sinto com a leitura de Mario Vargas Llosa: alguns livros, como A Festa do Chibo ou O Sonho do Celta ou ainda A Guerra do Fim do Mundo , são extraordinários, outros dececionaram-me, apesar de reconhecer em todos a qualidade da escrita. Dedico-lhe o Meu Silêncio fica a meio caminho entre uns e outros.     Toño Azpilcueta, o protagonista, acredita que é o melhor conhecedor e escritor de música e das danças populares peruanas. Um dia recebe um convite para ir ouvir tocar Lalo Molfino, apresentado como sendo o melhor guitarrista do Peru e talvez do mundo. E de facto, ouvi-lo tocar foi uma experiência única: «Tinha a sensação de que aquela música o trespassava, entrava no seu corpo e corria pelas suas veias juntamente com o seu sangue.»...

cacimbados, a vida por um fio, Manuel Bastos (Babel editores)

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      Cacimbados, a vida por um fio é um livro sobre a guerra colonial. De acordo com a badana, em 1972 o Autor foi mobilizado para a ex-colónia de Moçambique, onde cumpriu o serviço militar obrigatório até ser ferido em combate, um ano depois.      Apesar de já ter lido vários livros sobre a guerra colonial, a leitura de os cacimbados impressionou-me muito. Capítulos curtos, narrados na primeira pessoa, mostram o horror da guerra e o medo que persiste e acompanha a vida de todos os que nela[s] combatem. A lotaria da guerra, o absurdo de morrer sem se dar por isso, mesmo  aqueles que ladeiam os que morrem, impressionam quem lê os cacimbados.     A mensagem que Manuel Bastos quer deixar com este livro não poderia ser mais atual e importante nos dias que correm:     «Que este livro seja entendido como um apelo para que não caia no esquecimento uma guerra que poderia ter sido evitada, ou que pelo menos poderia ter sido terminada com ho...