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Acabámos de ler:

A noite mais sangrenta, João Miguel Almeida (Manuscrito Editora)

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       Conheço mal a história da primeira República, embora a ache fascinante, sobretudo pelo que se avançou em vários domínios políticos e sociais, deixando outros esquecidos e, como, em tão pouco tempo, o regime entrou em convulsão e evoluiu para um regime autoritário.     No campo das mulheres, como esquecer a avançadíssima lei do divórcio ou a possibilidade de as mulheres exercerem desde 1918 a “profissão de advogado, ajudante de notário e ajudante de conservador “(sic), reconhecendo-se, contudo, nesse mesmo diploma, a impossibilidade de atribuir às mulheres o direito de voto, como acontecia nas designadas “adiantadas sociedades anglo-saxónicas”, sem que se desse qualquer explicação para esta impossibilidade.     Mas a instabilidade política foi a marca dominante da primeira República: em menos de 16 anos foram empossados 39 governos e 8 presidentes da República.     A noite mais sangrenta...

Tudo isto é Sarah, Pauline Delabroy-Allard (Alfaguara)

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    A pilha de livros que recebi entre o Natal e o meu aniversário continua grande e titubeante na primeira (ou será a última?) prateleira da estante de livros, que está no que antes era o quarto da minha filha e que agora designo de «meu escritório». Apesar da designação - e da função – é também o quarto dos brinquedos dos meus netos. Na estante da direita acumulam-se os livros deles, herdados da mãe e dos tios. Na estante da esquerda estão os livros por ler ou que quero perto de mim.     “Tudo isto é Sarah” estava no topo dos livros e, sem sequer o folhear ou ler o resumo na contracapa, comecei a lê-lo. É um livro inquietante, o relato de uma paixão violenta que derruba tudo à sua volta. Duas mulheres apaixonam-se sem que antes tivessem vivido relações com outras mulheres. Sabemos pouco sobre quem nos conta a história, a não ser que é professora e mãe solteira, porque o pai da criança desapareceu sem avisar. «Sou mãe de uma criança perfeita, professora de alunos n...

Uma abóbora gila e Os Quatro Ventos, Kristin Hannah (Bertrand Editora)

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      Faz agora um ano mudámo-nos temporariamente para a casa onde um amigo vive, porque a nossa casa estava em obras. A casa, onde ficámos  durante um mês e meio, ocupa o rés do chão direito de uma moradia inserida num grande jardim, em Paço de Arcos. No andar de cima moravam os proprietários, o casal, no lado direito e, do outro lado, uma das filhas.  Ao lado da casa, uma moradia de dois andares, há uma pequena casa onde então residia um nonagenário, e que era simultaneamente arrecadação de ferro velho que ele transportava diariamente numa carrinha branca, velha e barulhenta. Ele não ouvia o barulho da carrinha, como também não me ouvia quando o cumprimentava ou quando me oferecia para fechar o portão.  No jardim, nas traseiras da casa, há uma outra casa que serve de arrecadação.     Durante anos passei pelo portão daquela casa sem perceber o espaço que lá havia e sem conhecer as pessoas que ali moravam.  Gatos circulam livre e desdenhosame...

Pedro Páramo, Juan Rulfo (cavalo de ferro)

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    Li Pedro Páramo de um fôlego só e quando acabei de ler voltei ao início para lê-lo de novo. Não é um livro fácil, mas é um livro extraordinário. Esta edição é precedida de um texto de Gabriel García Márquez e inclui um texto final de Carlos Fuentes, sobre Juan Rulfo. Li um e outro depois da segunda leitura de Pedro Páramo. Gabriel García Márquez conta que lhe disseram para ler Pedro Páramo para que aprendesse («Leia isto, carago, para que aprenda!»). Leu-o também duas vezes e ficou preso de um deslumbramento que o impediu de ler outros autores nesse mesmo ano.     Depois de o ler fiquei sem conseguir escrever uma linha que fosse. É difícil escrever (falar) sobre um romance tão extraordinário.      O livro inicia-se com a viagem de Juan Preciado até Comala para visitar o seu pai e, desta forma, cumprir o último desejo da sua mãe, Dolores:      «- Não lhe vás pedir nada. Exige-lhe o que nos pertence. O que me devia ter dado e nunca deu...