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Acabámos de ler:

O Conquistador, Almeida Faria (Assírio e Alvim)

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    Li O Conquistador no âmbito do Clube de Leitura da Almedina, dinamizado por Paulo Faria. Do autor, Almeida Faria, já tinha ouvido falar, mas desconhecia a dimensão da sua obra, os prémios que tinha ganhado e as línguas para as quais já tinha livros traduzidos. O Conquistador é o seu sexto romance, publicado em 1990, e inclui um conjunto de desenhos fantásticos de Mário Botas, também autor da ilustração da capa.    Começo por confessar que gostei de ler um romance passado em Portugal, com nomes e lugares portugueses, com a nossa história e as nossas pequenas estórias e crenças.     Joana Correia de Castro e João de Castro, faroleiro, viviam no Cabo da Roca. Como não tinham filhos, ficaram com a criança encontrada na praia da Adraga, depois da tempestade mais tremenda de que as pessoas se lembravam. Segundo a avó Catarina, a criança estava «metida num ovo enorme, com a cabeça, as pernas e os braços de fora» e não podia ser um acaso ter vindo ao mundo ...

Vemo-nos em agosto, Gabriel García Marquez (D. Quixote)

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    «Vemo-nos em agosto» é o último livro de Gabriel Garcia Marquez. A decisão de o publicar foi dos filhos. No prólogo referem que «a perda de memória de que o nosso pai padeceu nos seus últimos anos foi duríssima para todos nós.» E como ele próprio ter-lhes-á dito: «A memória é ao mesmo tempo a minha matéria-prima e a minha ferramenta. Sem ela, não há nada.» E quanto a este livro, terá dito que era preciso destruí-lo.     Compreendo a dificuldade da decisão dos filhos – e também dos leitores a quem será irresistível o desejo de ler mais um livro de Gabriel Garcia Marques -, mas agora que acabei de o ler, não consigo deixar de pensar que está muito aquém da restante obra dele. A premissa de base é interessante: Ana Magdalena Bach, casada e com dois filhos, vai todos os anos, a 16 de agosto, à ilha, onde está enterrada a mãe, colocar gladíolos no seu túmulo. Nos primeiros anos, utiliza o mesmo táxi, fica no mesmo hotel e compra as flores à mesma florista.   ...

Autobiografia não escrita de Martha Freud, Teolinda Gersão (Porto Editora)

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      Tenho a sorte de ter amigos que antecipam os livros que quero ler e mos oferecem. Foi o caso deste, Autobiografia não escrita de Martha Freud, de Teolinda Gersão.     Confesso que não gosto de Freud, apesar de pouco mais saber sobre o seu trabalho que os lugares-comuns, como o complexo de Édipo, o complexo de castração ou as fases do desenvolvimento de uma criança. Foi seguramente inovador para a época, mas sendo difícil discernir o autor da obra, não consigo dissociá-la do que sei sobre a sua vida. E parte do que sei resultou da leitura de um outro livro, A irmã de Freud, de Goce Smilevski:     Antes do eclodir da II Guerra Mundial, Sigmund Freud recebe um visto para sair da Áustria, rumo a Londres. Da lista que entregou às autoridades fazem parte a mulher, os filhos, o médico, a família do médico, as criadas e mesmo o cão. Na lista não incluiu as suas irmãs. Sem qualquer razão aparente, apenas o argumento que avança: “Se fosse necessário vo...

Antes que o café arrefeça, Toshikazu Kawaguchi (Ed. Presença)

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     Conheço apenas dois autores japoneses e de cada um li um livro apenas, segundo me recordo: Homens sem mulheres , de Haruki Murakami, e Silêncio , de Shusaku Endo. Apesar de ter apreciado ambos, este último, Silêncio, deixou-me uma marca profunda. Pela história, pela altura em que o li, por quem mo ofereceu.     Antes que o café arrefeça é por isso o terceiro livro japonês que leio, do terceiro autor japonês que conheço.     A premissa deste romance é simples e é contada na contracapa: Em Tóquio, num pequeno e antigo café, Funiculi Funicula, é oferecida a possibilidade de viajar no tempo, quer para o passado quer para o futuro. Só que as condições são muitas e difíceis de cumprir: há apenas uma cadeira que permite viajar no tempo e durante esse período a pessoa não se pode levantar, as únicas pessoas com quem se pode encontrar são pessoas que estiveram ou estarão no café, não há nada que possa fazer que mude o presente, e existe um limite de te...