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Acabámos de ler:

Os informadores, Juan Gabriel Vásquez (Alfaguara)

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      Começo por confessar a minha irritação com a maior parte das frases que constam das cintas que envolvem as edições de alguns livros. Muitas vezes nem sequer têm autoria, limitando-se a remeter para um jornal estrangeiro, de preferência americano.  Neste caso, a cinta que envolve a segunda edição de Os informadores, cita Paulo Portas: "Se existir uma possibilidade de haver um novo Gabriel Garcia Márquez, é Juan Gabriel Vásquez."      Parece-me que, para além da coincidência parcial do nome, só os une a nacionalidade. O estilo e a temática de um e de outro nada têm em comum.     Os informadores é um livro sobre a memória, individual e coletiva, e sobre a culpa ou sobre o poder. Gabriel Santoro, que tem o mesmo nome de seu pai,  decide escrever um livro baseado nas memórias de Sara Guterman, uma amiga da família, a que dá o título Uma Vida no Exílio. Depois de o escrever e publicar, nada voltou a ser como antes entre ele e o pai....

Ainda estou aqui, Marcelo Rubens Paiva (D. Quixote)

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         É pouco comum ver um filme e de seguida ler o livro que lhe deu origem. Sinto que o filme esgota o livro e por isso não sinto vontade de o ler.   Já o contrário não é verdade. Com frequência vejo filmes já tendo lido os livros nos quais se basearam. Sinto curiosidade sobre a forma como as palavras escritas passam para o écran, em especial os pensamentos, os sonhos ou os desejos das personagens.     Mas nalguns casos o filme abre as portas ao livro. Aconteceu-me com A zona de interesse . Depois de ter visto o filme, fiquei com curiosidade de ler o livro, da autoria de Martin Amis, e o mesmo sucedeu com o filme Ainda estou aqui. Nestes dois casos, depois de ler os livros em que se basearam os filmes, sinto que são histórias quase distintas ou como se o filme nos contasse apenas um episódio de uma história bastante mais complexa e longa.     O filme Ainda estou aqui inquietou-me, impressionou-me, arrepiou-me. Conheço ...

A noite mais sangrenta, João Miguel Almeida (Manuscrito Editora)

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       Conheço mal a história da primeira República, embora a ache fascinante, sobretudo pelo que se avançou em vários domínios políticos e sociais, deixando outros esquecidos e, como, em tão pouco tempo, o regime entrou em convulsão e evoluiu para um regime autoritário.     No campo das mulheres, como esquecer a avançadíssima lei do divórcio ou a possibilidade de as mulheres exercerem desde 1918 a “profissão de advogado, ajudante de notário e ajudante de conservador “(sic), reconhecendo-se, contudo, nesse mesmo diploma, a impossibilidade de atribuir às mulheres o direito de voto, como acontecia nas designadas “adiantadas sociedades anglo-saxónicas”, sem que se desse qualquer explicação para esta impossibilidade.     Mas a instabilidade política foi a marca dominante da primeira República: em menos de 16 anos foram empossados 39 governos e 8 presidentes da República.     A noite mais sangrenta...

Tudo isto é Sarah, Pauline Delabroy-Allard (Alfaguara)

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    A pilha de livros que recebi entre o Natal e o meu aniversário continua grande e titubeante na primeira (ou será a última?) prateleira da estante de livros, que está no que antes era o quarto da minha filha e que agora designo de «meu escritório». Apesar da designação - e da função – é também o quarto dos brinquedos dos meus netos. Na estante da direita acumulam-se os livros deles, herdados da mãe e dos tios. Na estante da esquerda estão os livros por ler ou que quero perto de mim.     “Tudo isto é Sarah” estava no topo dos livros e, sem sequer o folhear ou ler o resumo na contracapa, comecei a lê-lo. É um livro inquietante, o relato de uma paixão violenta que derruba tudo à sua volta. Duas mulheres apaixonam-se sem que antes tivessem vivido relações com outras mulheres. Sabemos pouco sobre quem nos conta a história, a não ser que é professora e mãe solteira, porque o pai da criança desapareceu sem avisar. «Sou mãe de uma criança perfeita, professora de alunos n...