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Acabámos de ler:

O abismo do esquecimento, Paco Roca / Rodrigo Terrasa (Ala dos Livros)

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    Sempre acreditei no poder terapêutico da leitura, mas compreendi agora que em circunstâncias extremas os livros são um fraco lenitivo. As letras, as palavras, as frases, as páginas sucedem-se e não fazem sentido ou depois de lidas são esquecidas ou ficam a pairar sem sentido.     Mas numa noite de insónia desisti de tentar dormir e vim para a sala ler. Este era o livro que estava à mão. Não tenho o hábito de ler o que atualmente designam de novelas gráficas, mas só consegui parar de ler O abismo do esquecimento quando o concluí.     Ainda me lembro da aprovação da lei da memória histórica, em Espanha, em 2007. Até então, não percebia como tinha sido possível a transição democrática no país vizinho, sem, pelo menos, o reconhecimento de direitos às vítimas do franquismo e o apagamento dos sinais óbvios do regime.     O abismo do esquecimento conta a história de Pepica, cujo pai fora condenado à morte, fuzilado e enterrado numa vala comum e que não desiste de o encontrar, exumar o cad

Noites de Peste, Orhan Pamuk

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       Gosto muito dos livros do Orhan Pamuk o que justifica que dois amigos me tenham oferecido o mesmo livro, Noites de Peste, por ocasião do meu aniversário. O  Museu da Inocência  continua a ser um dos livros da minha vida. Por ele continuo a sonhar com uma viagem à Turquia para visitar o Museu com o mesmo nome. Mas li outros livros deste Autor, como  Uma Estranheza em Mim  ou  A Mulher de Cabelo Ruivo , de que gostei igualmente. Por isso, crio sempre enorme expetativa quando é editado entre nós um novo livro dele.     Apesar de ter sido traduzido e editado em Portugal no ano transacto, foi editado originalmente em 2021, justamente quando grassava em todo o mundo a pandemia Covid 2019, sendo que muitas medidas descritas no livro e que terão sido adoptadas há mais de 100 anos eram as mesmas que foram impostas na atualidade. Orhan Pamuk terá começado a escrevê-lo antes da pandemia, o que é uma coincidência impressionante.     Algumas surpresas iniciais: o livro começa com um pref

O desejo de Kianda, Pepetela (D. Quixote)

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      A meio do livro Noites de Peste, de Orhan Pamuk, que ia lendo com uma folha ao lado onde anotava os nomes dos paxás, sultões e governadores que se sucedem vertiginosamente na ficcional ilha de Mingheria - que no príncípio do livro acreditei existir – abri O desejo de Kianda e só parei quando acabei de o ler.     O início do livro consta da contracapa e convida logo à leitura:     «João Evangelista casou no dia em que caiu o primeiro prédio. No largo do Kinaxixi. Mais tarde procuraram encontrar uma relação de causa e efeito entre os dois notáveis acontecimento. Mas só muito mais tarde, quando a síndrome de Luanda se tornou notícia de primeira página do New York Times e do Frankfurter Allgemeine. Aliás, João Evangelista casou às cinco da tarde, na Conservatória do Kinaxixi, e o prédio caiu às seis. A existir relação, parece claro ser o casamento a causa e nunca o suicídio do prédio. O problema é que as coisas nunca são tão límpidas como gostaríamos.»     A 1.ª edição de O desej

Mulheres invisíveis, Carolina Criado Perez (Relógio d'Água)

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        Li este livro na edição inglesa, que me foi emprestado pelo meu sobrinho Francisco, depois de uma conversa justamente sobre a invisibilidade das mulheres. Desconhecia que o livro estava em vias de ser traduzido e editado entre nós. Nunca tinha ouvido falar desta autora, que pensei ser espanhola ou sul-americana, e não britânica. Descubro depois que, para além de escritora, é jornalista e defensora dos direitos das mulheres. Nas notas biográficas, é referido que foi ela que conseguiu que uma mulher aparecesse em notas do Banco de Inglaterra e que dinamizou a campanha para que a estátua de uma sufragista - Millicent Fawcett - fosse erguida no Parliament Square.     O livro inicia-se com uma citação de Simone Beauvoir e que poderia ser o subtítulo ou o resumo desta obra:     “A representação do mundo é obra dos homens; eles descrevem-no do ponto de vista que lhes é peculiar e que confundem com a verdade absoluta.”     Algumas das questões que a Autora suscita constam da publ