Correcções, Jonathan Franzen (D. Quixote)

Correcções agarra-nos logo ao princípio e leva-nos numa vertigem ao longo das suas mais de 500 páginas até ao fim. Dizer que é um romance sobre a família americana da última década do século XX é demasiado redutor. É um livro sobre pessoas, sobre família, casamento, crescimento, envelhecimento e como todos lidamos com as diferentes fases da vida.
O livro centra-se quase exclusivamente na família Lambert: o pai, Alfred, reformado e a sofrer de Parkinson e de demência, Enid, sua mulher, doméstica (Não importava que o trabalho dele o satisfizesse tanto que nem precisava do amor dela, ao passo que a lida dela a enfadava tanto que precisava a dobrar do amor dele. Em qualquer contabilidade racional, o trabalho dele anulava o dela), e os três filhos do casal, Gary, Chip e Denise. A razão do nome só nos é revelada no final do livro, quando Enid, liberta finalmente do peso diário da vivência com Alfred, internado num lar, o corrige sistematicamente durante as suas visitas (sentira-se errada a vida inteira e agora tinha uma oportunidade de lhe dizer que ele estava errado).
A acção decorre num curto período de tempo, em que Enid, consciente de que o próximo Natal será o último que passará com o marido em casa e poderá reunir a família, pressiona os filhos de forma a que eles aceitem passar o Natal em S. Jude. Vamos passando pelas histórias e vidas de cada um e apercebendo-nos de como cada um deles, pode ser o nosso vizinho, irmão ou mesmo nós. A maneira como os filhos vão escondendo certas partes da sua vida dos pais, para não os desiludir e estar à altura das suas expectativas, os ciúmes sentidos entre irmãos, a forma como vão ignorando os sinais de demência do pai e a complacência com que convivem com a mãe (Quando fora que os seus pais se tinham tornado nos filhos que iam para a cama cedo e chamavam a pedir ajuda do cimo da escada?)são situações quase triviais, contadadas de uma forma que nos desgosta ao mesmo tempo que nos mostra ao espelho.
Somos nós.

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