No tempo das borboletas, Julia Alvarez (Bertrand Editora)
Há mais de dez anos fui a um congresso à República Dominicana. Tive oportunidade de conhecer apenas a capital. O povo dominicano, nos contatos que tive, pareceu-me afável e simpático. Sempre que me identificava como portuguesa invocavam o nome de Luís Figo e de outros jogadores de futebol. Um dia fomos surpreendidos por um indivíduo de uma certa idade, e com ar de sem abrigo, que quando nos identificou como portugueses, gritou Camões. Continuou a andar e passado um pouco, voltou-se para nós e gritou Pessoa. Fernando Pessoa.
Senti-me intimidada. Se a minha incapacidade de citar nomes de jogadores dominicanos era compreensível, já me impressionava o total desconhecimento da literatura e da história daquele país.
Esta noção foi corroborada quando, num restaurante, no final da refeição e a propósito de uma moeda, me falaram das irmãs Mirabal, as mariposas, e me perguntaram se não conhecia a história delas. Era uma história tão marcante que Hollywood estava a fazer um filme sobre a sua vida.
Quando regressei a Portugal comecei a procurar coisas sobre as irmãs Mirabal. Foi então que ouvi falar neste livro publicado uns anos antes, mas não o encontrei.
Mais tarde a minha irmã pediu que o procurasse e embora todas as informações fossem que se encontrava esgotado, consegui comprá-lo na net, no site da editora.
O livro está muito bem estruturado. A autora marca um encontro com a irmã sobrevivente, Dédé, que se divide entre a necessidade de manter as irmãs vivas e homenageá-las, o cansaço de viver entre estes fantasmas e o remorso de lhes ter sobrevivido
A história é narrada pelas quatro irmãs, que vão vivendo a vida comum das jovens da sua época, estudam num colégio de freiras, ajudam em casa, pressionam os pais para poderem frequentar a faculdade, apaixonam-se....mas a vida é-lhes negada por um ditador sanguinário e prepotente.
Se calhar o mais assustador é a proximidade do poder, pois em diversos momentos elas contactam com Trujillo, ou com quem o representava.
O livro acaba na actualidade, com Dédé, os filhos e os sobrinhos, todos sobreviventes desse período da história dominicana. Apaziguados com a memória mas não deslumbrados com o regime vigente. Foi para isto que elas morreram? pergunta a dada altura Dédé.
Queria muito ler o livro, vi o filme estes dias, nunca tinha ouvido falar das irmãs, mas depois de ver o filme, apaixonei me pela historia delas.
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