A ilha dos espíritos, Camilla Läckberg (Dom Quixote)

   Um dos meus maiores prazeres nas férias de verão é a leitura de um bom livro policial. Ainda não tinha lido nenhum desta autora e confesso que a leitura do livro me prendeu desde o início. A história é muito complexa e à trama policial soma-se a vida familiar e a envolvência social e politica de uma pequena comunidade sueca. 
    Embora o crime que desencadeia a investigação seja o homicídio aparentemente inexplicável de Matts Sverin, a trama centra-se sobretudo na questão da violência doméstica e nos efeitos e consequências que desencadeia.
    O livro decorre em dois contextos temporais e espaciais, no presente em Fjällbacka e, no passado, em 1870, na ilha de Gråskär. Mas em ambos o crime de violência doméstica é o detonador da sequência de eventos que constitui o cerne do livro. 
    O final é absolutamente inesperado e constitui uma reviravolta na investigação e na perceção que o leitor foi construindo durante a sua leitura, mas reduzir este livro a um mero policial é muito redutor, porque lateralmente fala de várias situações de violência doméstica e da dificuldade de, em muitos casos, encontrar soluções dentro da lei; fala também das consequências nefastas da divulgação descuidada de elementos da investigação policial na comunicação social, e ainda, entre outros, da corrupção e da promiscuidade na vida política.
    Não li os anteriores livros desta autora, mas fiquei com a ideia que, embora independentes, há continuidade dos protagonistas e das respetivas vidas. Lembrou-me um pouco o ambiente dos episódios de Midsomer Murders, em que ocorrem crimes terríveis em pequenas comunidades aparentemente tranquilas e onde todos se conhecem. 
    Uma excelente leitura, nas férias ou em qualquer outro momento, mas com a disponibilidade de tempo para começarmos e nos dedicarmos à sua leitura quase de um fôlego só.

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Comentários

  1. Cerca de um ano depois, é a minha vez de ler este livro durante as férias de verão - e ocupou-me precisamente os três dias de férias que tive! Não o consegui pousar. Como dito em cima, o livro é muito mais do que a investigação do homicídio de Matts e grande parte do interesse do livro é precisamente a questão da violência doméstica, tanto na atualidade, como em 1870. O tema interessa-me sempre e é bastante explorado, nomeadamente ao focar uma instituição de apoio a vítimas de violência doméstica e das dificuldades em apoiar estas mulheres e filhos de uma forma consistente e definitiva.Mas o livro é ainda mais abrangente do que isso, nas pequenas "sub-tramas" dentro dos dois enredos principais. O fim não foi uma completa surpresa, mas a parte que surpreendeu teve mesmo o efeito de fazer rebobinar todo o livro para reinterpretar determinadas situações à luz das descobertas feitas. É um final absolutamente trágico e horrível - fiquei muito feliz por ter acabado o livro durante a manhã e não à noite! De qualquer forma este livro é muito mais interessante do que o anterior - "A Sombra da Sereia" (http://leiturasemclube.blogspot.pt/2014/10/a-sombra-da-sereia-camilla-lackberg-d.html) -, sobretudo no que toca à parte da vida familiar dos investigadores e respetivas famílias, que já não é uma ode às crianças pequenas (como parecia ser o livro anterior), mas explora a importância dos laços familiares na capacidade de superar as adversidades da vida. Não é um livro que se lê pela qualidade da escrita, mas é um livro que se lê extraordinariamente bem e é perfeito para aqueles momentos em que podemos passar 4 horas de seguida a ler.

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