Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2015

A cor do hibisco, Chimamanda Ngozi Adichie (ASA)

Imagem
     A autora, Chimamanda Ngozi Adichie, tem esta rara qualidade de nos arrastar nas primeiras páginas dos seus livros para o universo que descreve. Começamos a ler "A cor do hibisco" e estamos na Nigéria, somos Kambili ou Jaja o seu irmão. Sentimos o calor insuportável, a chuva e os cheiros da terra.     Sofremos com Kambili e Jaja o horror de ter um pai que exige o máximo dos filhos e os agride quando não conseguem atingir as suas expectativas, bastando não ser o melhor aluno da classe para os torturar, cortando dedos ou queimando os pés. Agride a mulher violentamente e ela convive com a situação de forma ambígua porque tem medo mas, simultaneamente, sente-se agradecida por ele nunca a ter deixado ou decidido ter outras mulheres que lhe dêem mais filhos. Ao mesmo tempo, este pai é um herói que ajuda pessoas, financia os estudos de centenas de crianças, dá donativos a diversas instituições e é dono de um jornal que denuncia a situação que se vive no país, recusando ced

Numa terra estranha, Jhumpa Lahiri (Editorial Presença)

Imagem
        Gostei tanto de ler este livro, que me obriguei a interromper a leitura quando já estava nas últimas páginas, para reservar o prazer de o concluir à noite, lentamente, saboreando o desfecho da história de Hema e Kaushik.       O livro é composto por duas partes, a parte um conta 5 histórias e a parte dois a história de Hema e Kaushik. Quase todas têm como protagonistas filhos de emigrantes bengalis, residentes nos EUA ou no Reino Unido. A intensidade com que querem deixar os sinais exteriores dessa origem, sobretudo na juventude, é sôfrega e contrasta com a atitude dos pais, mais ambivalente, desejando a integração mas tentando, simultaneamente, preservar as tradições e a memória.      Nalguns casos os filhos regressam ou recorrem às tradições do seu país como um último recurso, como se fosse um porto de abrigo a que pudessem acostar quando precisam.      As histórias que integram a primeira parte centram-se sobretudo no relacionamento entre emigrantes bengali e nacio

Madame Bovary, Gustave Flaubert (Coleção Novis)

Imagem
    Conhecia o drama de Madame Bovary antes de o ler. Não me aventurei por isso a dizer "isto ainda vai acabar mal" como a jovem que estava sentada atrás de mim na estreia do filme Anna Karenina. Eu sabia como ia acabar e que ia acabar mal. Mas a história é o que menos interessa nesta obra. O que é verdadeiramente importante é a forma como a história é narrada. Depois de ler o livro, li excertos de uma edição francesa que a minha mãe tem (GF-Flammarion), e que inclui uma introdução, notas e peças do julgamento.     Após a publicação do livro, Flaubert foi acusado e julgado por ofensa à moral pública e ofensa à moral religiosa. Curiosamente, na acusação é feita uma síntese da obra e é dito que é feita uma síntese apenas porque as pessoas poderão ler o livro por inteiro. O autor e editores são ilibados mas não deixa de ser curioso pensar na acusação por um livro atentar contra a moral e em que porventura a projecção dada à obra pelo julgamento é superior à que teria se

Amesterdão, Ian McEwan (Gradiva)

Imagem
    Foi com um misto de impaciência e pena que li este livro. Impaciência por acabar, mas no mau sentido; queria terminá-lo por ser do Ian McEwan, por ter recebido o Booker Prize em 1998 e porque, sendo pequeno, custava um pouco menos. Pena porque há uns anos atrás, li os livros deste autor de forma desenfreada, e porque de facto ele escreve muito bem; no entanto, o livro não me interessou     Dois amigos, antigos amantes da mesma mulher, Molly Lane, cujo serviço fúnebre é a abertura do livro, vêm a sua amizade destruída por divergências de opiniões, valores e atitudes.    Vernon Halliday é redator chefe do jornal The Judge , que precisa urgentemente de aumentar o número de vendas. O viúvo de Molly entrega-lhe então fotos comprometedoras do primeiro ministro e Vernon tem de decidir se as publica ou não.   Clive Linley é um compositor aclamado a quem foi encomendada uma peça para assinalar a mudança de milénio. Dotado de ouvido absoluto, e sempre em busca do trecho musical segu