Maria Stuart, Stefan Zweig (Aletheia Editores)

   
    O Diogo acerta sempre nos livros que me oferece. Não sei se optou por este pelo autor ou pela biografada, mas qualquer que tenha sido o motivo, acertou pois adorei lê-lo. Conhecia mal a vida de Maria Stuart e o pouco que conhecia era a relação com Isabel e a sua trágica morte. O livro dá uma dimensão a Maria Stuart que não nos deixa indiferentes. Aliás, o livro transmite a sensação que Stefan Zweig desenvolveu uma forte empatia com a biografada  e, no confronto que esta manteve com Isabel, uma clara opção pela figura derrotada, inevitavelmente trágica mas que a história tem relegado para um plano secundário.  Várias passagens nos dão esta perspetiva:
     A vitória de Isabel foi o triunfo da vontade da História, que caminha sempre em frente, que atira para trás de si, como cascas vazias, as formas fora de moda e tenta criar outras sempre novas. A vida de Isabel personifica a energia duma nação que quer conquistar um lugar no Universo; o fim de Maria Stuart é a morte heróica e sublime duma época cavalheiresca. Mas, neste combate, cada uma delas realiza perfeitamente o seu ideal: Isabel, a realista, vence no domínio da História; Maria Stuart, a romântica, no da poesia e da lenda.
(...)
    É apreciar falsamente os acontecimentos históricos, julgá-los no ponto de vista cómodo da posteridade, que vê apenas os resultados. É muito fácil chamar louco a um vencido, sob pretexto de que ele se empenhou numa luta perigosa.
     De facto, a vida de Maria Stuart tem todos os ingredientes para se tornar uma lenda, a dignidade com que encara a morte, mas também em vida, quando cavalga à cabeça do exército e persegue até à fronteira aqueles que a tinham traído, quando se apaixona, quando escreve poesia ou cartas de amor, que são encontradas guardadas num guarda jóias e depois lidas no julgamento. Mas a guerra permanente entre estas duas mulheres não é uma mera animosidade, é de facto uma luta pelo poder e assente na luta entre as duas igrejas e o autor não ignora também essa perspetiva. 
    Durante a leitura, em várias passagens do livro, pensei que era o melhor romance histórico que tinha lido. Stefan Zweig é exímio na junção de factos e documentos históricos, preenchendo os espaços em branco, arriscando nalguns casos e assumindo o risco (O escritor honesto precisa, pois, de pesar as provas apresentadas num e noutro sentido. Mas a sua decisão só pode ser pessoal, individual, porque a prova absoluta, científica e jurídica, a apresentação dos originais, não é já possível e o valor daqueles documentos não pode ser afirmado ou negado, senão fazendo intervir a lógica e a psicologia.)  
    Lamento apenas que, a dada altura, o autor tenha cedido à tentação de ridicularizar o conflito que opôs estas mulheres e que, na época,  foi tão comum entre homens, referindo que Apesar da sua extraordinária envergadura, essas duas mulheres ficam sempre mulheres, não podendo vencer as fraquezas do sexo; o ódio que partilham, em vez de ser franco, é torvo e pérfido. (...) é uma batalha de artimanhas, de gatas que se arranham com as unhas escondidas, num jogo de traição e astúcia. 
    A história que ele depois desenvolve desmente-o.

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