O romancista ingénuo e o sentimental, Orhan Pamuk (Editorial Presença)

  
orhan pamuk @ Clube de Leituras
    Uma das minhas prendas de Natal, oferecida pelos meus filhos que sabem o quanto aprecio este autor. Uma primeira palavra para esta edição que, embora de 2012, tem uma sobre capa que oculta a capa original. Segundo a ficha técnica, a ilustração da capa original é de um quadro After the ball (óleo sobre tela), por Casas i Carbo, Ramon (1866-1932). O que terá levado a editora a cobrir esta capa com uma sobre capa, sem qualquer imagem, apenas com o título e o nome do autor em caracteres brancos significativamente maiores, escapa-me completamente. A original atrair-me-ia muito mais que esta sobre capa...Por isso mesmo optei por colocar aqui a capa original.
    O livro condensa um conjunto de conferências que o autor deu na Universidade de Harvard, cujo título é baseado no ensaio de Schiller, a Poesia Ingénua e Sentimental. De acordo com o autor,  na esteira de Schiller, os poetas - escritores - ingénuos escrevem de forma espontânea, não se preocupando com as consequências das suas palavras, nem prestando atenção àquilo que os outros possam dizer, ao contrário dos sentimentais, que não têm a certeza que as suas palavras abranjam toda a realidade e preocupam-se com os princípios pedagógicos, éticos e intelectuais. 
   O objetivo do autor é encontrar o equilíbrio entre o romancista ingénuo e o sentimental que, considera, existem dentro dele.
    Confesso que o que gostei mais de ler foram as reflexões que faz sobre diversos livros enquanto leitor. Aliás, sendo uma obra sobre o autor, o romancista, este livro tem sempre presente o leitor: o autor enquanto leitor e os leitores do livro dele. O primeiro capítulo analisa O que se passa na nossa cabeça quando lemos romances:
    Tirar partido da leitura de um romance, sentindo prazer, é deliciarmo-nos com o ato de partir das palavras para transformarmos todas essas coisas em imagens na nossa cabeça, Ao retratarmos na nossa imaginação aquilo que as palavras nos querem dizer, nós leitores, completamos a história.
(...) 
    Mas mesmo nos outros capítulos analisa esta questão:
Ler um romance é executar o mesmo gesto ao contrário. A única coisa que está entre o escritor e o leitor é o texto do romance, como se este fosse uma espécie de tabuleiro de xadrez, diverrindo-se ambos a jogar. Cada leitor vê o texto à sua maneira e procura o centro onde lhe apetecer
    O autor aborda também a confusão que o leitor, mesmo o mais avisado, faz entre o autor e o protagonista e na dúvida que com frequência os próprios autores criam. Utiliza muitos romances para ilustrar o que vai escrevendo, mas volta obsessivamente a Ana Karenina, o que me deu uma imensa vontade de o reler.
    

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