O fiel defunto, Germano Almeida (Caminho)

Germano Almeida @ Clube de Leituras     Encontrei este livro por acaso. Um dia quase à meia-noite, esperava pelo João no aeroporto e entrei na loja (tabacaria?) que vende revistas, jornais e também alguns livros. Quando aguardo a chegada de alguém no aeroporto, passo quase sempre por lá e folheio sobretudo os jornais e revistas. Mas, desta vez, este livro chamou-me a atenção, pelo autor, pelo título e também pela sobriedade da capa. Há muito que não leio um livro do Germano de Almeida. Li as primeiras páginas deste e, felizmente, não li a última.     
    Já me aconteceu ler as primeiras páginas de um livro e depois a última. Saber como um livro acaba não me dissuade de o ler. Mesmo se se tratar de um livro policial, porque não tento adivinhar quem matou, quem roubou, enfim, quem tem a culpa. O que me seduz na leitura é o percurso que é feito, as personagens, as relações que estabelecem entre elas, ou seja, o que está entre o princípio e o fim do livro, sendo que estas partes são um bom indicador sobre o interesse do mesmo. Mas, neste caso, não li a última página antes de ler o livro e por isso quando o terminei, quando de facto cheguei ao fim do livro, desmanchei-me a rir. Não me consigo lembrar de outra expressão. Absolutamente surpreendente e divertido.
    O livro parece ter sido escrito ao sabor da caneta, sem grandes delongas, nem reflexão. Como se as palavras afluíssem ao autor e a história fosse passeando pelas diversas personagens, o escritor, Miguel Lopes Maceira, Mariza, Matilde, Edmundo do Rosário e o primo do escritor, Jesus de Brito Macieira. A morte do escritor é anunciada logo no primeiro parágrafo e pressentida pelo próprio e a partir daí seguimos os principais envolvidos na vida e morte do escritor. Depois da morte dele,  acompanhamos a forma como as pessoas lidam com o acontecimento, as pessoas próximas do escritor, mas também as pessoas afastadas, que o conheciam pelos seus livros ou apenas pelo nome e os políticos. Como lidam e tentam beneficiar com a sua morte.
    Não resisto a dar um cheirinho do livro:
    (...) eu mesmo pensava, mas como é possível que uma pessoa como ele, que produziu páginas tão belas, tão extasiantes, páginas que encantaram não apenas nós, os seus patrícios, mas mesmo o mundo lá fora, possa de repente começar a cheirar tão mal? Mas precisamente aqui está a maravilha da natureza, disse o presidente, a maravilhosa benção que é a luta permanente entre a vida e a morte dentro de nós, e quando  vida perde essa luta, que ninguém sabe quanto tempo dura, a morte instala-se finalmente triunfante e com todo o seu horror de podridão. (...)
    A não perder!

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