O Homem Duplicado, José Saramago (Porto Editora)
Comprei este livro há vários anos, na sequência da sua adaptação para cinema (apesar de não ter visto o filme). Entretanto, o livro ficou a aguardar a sua vez na minha estante. E o que eu andei a perder!
Tertuliano Máximo Afonso, Máximo Afonso, de preferência, é professor de História no liceu e vive num «marasmo» próximo da depressão desde o seu divórcio. Para o tentar distrair, o colega de Matemática recomenda-lhe um filme leve que viu há uns tempos, Quem Porfia Mata Caça, e, apesar de não ser propriamente amante de cinema, Máximo acaba por alugar o vídeo. E a sua vida fica virada do avesso. Porque, por uma fração de tempo, vê-se a si mesmo num papel secundário desse filme. Mais do que isso, vê-se como era na altura em que o filme fora gravado.
«[...] tudo quanto é possível suceder, já sabemos que sucederá, primeiro foi o acaso que nos tornou iguais, depois foi o acaso de um filme de eu nunca tinha ouvido falar, poderia ter vivido o resto da vida sem imaginar sequer que um fenómeno destes escolheria para manifestar-se um vulgar professor de História, este que ainda há poucas horas estava a corrigir os erros dos seus alunos e agora não sabe o que fazer com o erro em que ele próprio, de um instante para o outro, se tinha visto convertido.»
Inicia então uma busca obsessiva por esse seu duplicado, com consequências que não poderia prever, por mais advertências que o Senso Comum, que surge como que personificado de quando em vez, o tente convencer a parar.
«O que tiver de ser, será, Conheço essa filosofia, costumam chamar-lhe predestinação, fatalismo, fado, mas o que realmente significa é que farás o que te der na real gana, como sempre, Significa que farei aquilo que tiver de fazer, nada menos, Há pessoas para quem é o mesmo aquilo que fizeram e aquilo que pensaram que teriam de fazer, Ao contrário do que julga o senso comum, as coisas da vontade nunca são simples, o que é simples é a indecisão, a incerteza, a irresolução [...].»
«[...] tudo quanto é possível suceder, já sabemos que sucederá, primeiro foi o acaso que nos tornou iguais, depois foi o acaso de um filme de eu nunca tinha ouvido falar, poderia ter vivido o resto da vida sem imaginar sequer que um fenómeno destes escolheria para manifestar-se um vulgar professor de História, este que ainda há poucas horas estava a corrigir os erros dos seus alunos e agora não sabe o que fazer com o erro em que ele próprio, de um instante para o outro, se tinha visto convertido.»
Inicia então uma busca obsessiva por esse seu duplicado, com consequências que não poderia prever, por mais advertências que o Senso Comum, que surge como que personificado de quando em vez, o tente convencer a parar.
«O que tiver de ser, será, Conheço essa filosofia, costumam chamar-lhe predestinação, fatalismo, fado, mas o que realmente significa é que farás o que te der na real gana, como sempre, Significa que farei aquilo que tiver de fazer, nada menos, Há pessoas para quem é o mesmo aquilo que fizeram e aquilo que pensaram que teriam de fazer, Ao contrário do que julga o senso comum, as coisas da vontade nunca são simples, o que é simples é a indecisão, a incerteza, a irresolução [...].»
Gosto muito da escrita de Saramago. Não o percebi na escola, com o Memorial do Convento, mas tomei consciência disso quando, há uns anos, li A Jangada de Pedra. Desta vez, foi igual. Assim que comecei a ler, maravilhei-me com a escrita. Mas foi preciso chegar ao último terço do livro para o devorar. Confesso que durante a primeira parte, não conseguia tirar da cabeça o livro O Outro Eu de Daphne du Maurier, e estava como que à espera que Saramago seguisse a mesma linha. Pois não seguiu e deu-nos, pelo contrário, um final inesperado e genial.
Vale muito a pena ler!
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