Orgulho e preconceito, Jane Austen (Romano Torres)


Recensão do livro Orgulho e Preconceito no blogue Clube de Leituras    O Almada Negreiros tinha razão: não duramos o tempo suficiente para lermos todos os livros que existem numa livraria e, por isso, no meu desejo de tentar ler os mais que possa, raramente volto a ler um livro. Agora vou  quebrar esta regra, porque quatro dos seis livros cuja leitura terei que fazer nas próximas semanas (no âmbito da disciplina Arte do Romance, Rogério Casanova) já li, mas há demasiado tempo para me lembrar. 
    O primeiro, Orgulho e Preconceito, custou-me mais a ler do que pensava. Confesso que tenho alguma incapacidade para compreender o sucesso e a perenidade desta obra, mas quando se a lê pela primeira vez, há uma imensa expetativa relativamente ao desenvolvimento e desfecho da história que  é contada e especialmente da relação entre Lizzie e Mr. Darcy. Quando se conhece a história (e as histórias) de fio a pavio, se dá rosto às personagens e quase que se sabe de cor algumas falas, a leitura é relativamente fastidiosa, apesar de simples.
    Reconheço o carácter precursor do livro (publicado pela primeira vez em 1813, embora tivesse sido concluído 16 anos antes), mas penso que o seu sucesso se deve sobretudo ao facto de as leitoras - ainda nos dias de hoje - se identificarem imediatamente com Lizzie. As outras irmãs e amigas não têm a densidade dela, e quase que as conseguiríamos descrever utilizando um único adjetivo para cada uma. Já Lizzie revela uma complexidade que não só a torna mais interessante como garante a empatia e compreensão imediatas. Por outro lado, Darcy tem as características que, sobretudo na juventude, desejamos encontrar num homem.
    O livro já teve algumas sequelas, pouco conhecidas e muito inferiores ao Orgulho e Preconceito, como Longbourn de Jo Baker e a Independência de uma mulher, de Colleen McCollough, e já foi adaptado várias vezes ao cinema, embora, em minha opinião, nunca tenha contracenado o par perfeito. 
    Nesta leitura, verifiquei com surpresa que a imagem que guardava de algumas personagens não correspondia à que encontrei, sobretudo do pai, Mr. Bennett, que antes descreveria como um homem culto, cínico q.b., distante, mas afetivo com as filhas, e que, agora, me pareceu egoísta e irresponsável. Em 2013, nos duzentos anos da publicação do romance, o jornal The Guardian publicou um artigo onde diversos escritores da atualidade analisam as várias personagens desta obra e que coincidem com esta minha leitura quanto a Mr. Bennett, que consideram um rufia.

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Comentários

  1. Concordo com grande parte da crítica. Passei anos a aspirar ser a Lizzie... até chegar aí aos 26. Depois passou-me. Na juventude (ainda lá estou.... mas numa mais anterior), é um livro apaixonante; mas de entre os vários que li por essa altura (O Monte dos Vendavais, Jane Eyre, Mataram a Cotovia, etc), esse não é o que mais gosto. Mas é um livro que marca, de jovens, e que creio que fica sempre um pouco connosco. Só não concordo com o comentário das adaptações para cinema. Gosto muito da de 2005; acho que está muito bem realizada, bonita e com uma banda sonoro que adoro. (Porém, creio que nunca vi outra...)

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