A Princesinha, Frances Hodgson Burnett (Bertrand Editora)

Opinião do livro A Princesinha Sara Crewe de Frances Hodgson Burnett, pela Bertrand Editora, no blogue Clube de Leituras
    Uma das minhas mais queridas recordações de infância é das noites passadas em casa dos meus avós, deitada na cama, com a minha avó a ler-me, por bocadinhos, a história d'A Princesinha, de Frances Hodgson Burnett, e do meu avô a abrir devagarinho a porta, para nos assustar, dizendo que o lobo mau ia devorar a Princesinha. 
    Sempre me foi uma história querida, porque é uma história mágica, uma história de esperança, e porque eram os meus momentos de princesa dos meus avós.
    O ano passado, na Feira do Livro, decidi comprá-lo, para poder ter um volume desta obra querida na minha estante e, quem sabe, vir a lê-la aos meus filhos, como a minha avó me lia a mim.
    Depois da crueza de Misery, precisava de ler alguma coisa bonita e simples.
   A leitura foi muito rápida. O livro lê-se extremamente bem  e devo salientar que a tradução e a revisão são irrepreensíveis! Ainda assim, fiquei um pouco indignada com algumas das cenas e ocorrências que passam na história - mais ainda se pensar nas mensagens que as crianças que a ouvem ou leem podem assimilar. Na verdade, quando mencionei esses temas à minha mãe, a resposta dela foi «Claro. Mas nós falávamos sobre isso, quando eras pequena, sobre as injustiças».
    Sara Crewe viveu até aos seus sete anos na Índia, apenas com o pai, depois de a mãe ter falecido. Com esta idade, abandona a terra natal para se ir instruir em Inglaterra, em regime de internato. Como o pai é extremamente abastado e a menina sempre viveu com luxo, são essas as condições exigidas pelo progenitor quando entrega a sua única menina aos cuidados da Senhora Minchin. A antipatia é mútua entre ambas, desde o primeiro momento, e piora por Sara ser extremamente inteligente e sempre, mesmo na adversidade, educada e contida. Quando, no seu décimo primeiro aniversário, recebe a notícia da morte do pai e da sua consequente situação de pobreza extrema, Sara não verga, mas a Senhora Minchin decide punir os luxos dispensados à rapariga remetendo-a para o sótão e obrigando-a a trabalhar para suportar a estada na casa. Porém, Sara usa toda a sua imaginação para procurar o melhor da sua atual condição («Não posso deixar de imaginar e inventar... Estou mesmo convencida de que, sem isso, não poderia viver...»), transmitindo uma graça a si e a quem a escuta que lhe permite viver num mundo mágico e que, em breve, será recompensada.

   «Quando se tem uma alma terna, as mãos estão sempre abertas e o coração também; e se por vezes as mãos estão vazias, o coração, esse, é inesgotável e pode dar sempre coisas belas, boas e doces: consolo, conforto, alegria - e a alegria é, bastantes vezes, o mais eficaz de todos os presentes.»


    Continua a ser o livro querido da minha infância, mas ainda não decidi se vai ser da dos meus filhos.

***

Comentários

Enviar um comentário

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)