Misery, Stephen King (Hodder and Stoughton)

    Creio que, pelo menos para os próximos anos, dou assim por encerrada a leitura de Stephen King. Não quero que me interpretem mal - é um escritor exímio! Os três livros que li - este, A Cúpula e Rose Madder -, li-os no original e volto a frisar que é uma leitura muito simples e acessível... Para quem goste do estilo. E no entanto, os três livros não poderiam ser mais distintos. Se o primeiro me encantou pela sua vertente de ficção científica como forma de expor a vulnerabilidades humanas e o segundo me falou pelo tema da violência doméstica, Misery versa sobre a doença mental no seu extremo. Está tão bem escrito, que todos os leitores se sentirão Paul Sheldon, receosos, assustados, drogados. Esse é, para mim, o melhor do autor: a forma de descrever as cenas é tão real que é mesmo como se fosse connosco - para o bem e para o mal.
    Paul Sheldon é um escritor que procura afastar de si a marca da sua coleção bestseller, os livros sobre Misery Chastain. Por isso, decide que a personagem deverá morrer no último livro da saga e, livro publicado, segue para novas aventuras, um novo romance com o qual pretende convencer os grandes senhores do meio daquilo que vale. Findo o novo manuscrito, decide celebrar e, depois de uns quantos copos, fazer-se à estrada. Não contava porém com a tempestade de neve que se abate sobre ele, levando-o a ter um acidente de carro e acordar, dias mais tarde, no quarto de hóspedes de Annie Wilkes, uma ex-enfermeira que se intitula como a sua «fã número um». Porque está ali e não num hospital é uma das primeiras perguntas que Paul se coloca. Porém, cedo se apercebe de que mais vale não fazer perguntas. Mais vale não fazer Annie Wilkes ficar zangada. O problema é que a sua fã número um é na verdade a maior fã de Misery Chastain; e se há coisa que a deixa furiosa, é saber que Misery morreu.

    «Annie Wilkes was the perfect audience, a woman who loved stories without having the slightest interest in the mechanics of making them. (...) She did not want to hear about his concordance and indices  because to her Misery and the characters surrounding her were perfectly real.»
     (Annie Wilkes constituía a audiência perfeita, uma mulher que adorava história sem ter o menor interesse quanto aos mecanismos para as criar. (...) Ela não queria saber acerca da sua concordância e índices porque para ela Misery e as personagens à sua volta eram perfeitamente reais.)

    Um livro que me fez, em alguns momentos, sentir o coração na boca e obrigar os meus olhos a não saltarem para a página ao lado para saber se cada cena ia acabar bem ou mal, que, com Paul, me fez sofrer por descobrir que fora(mos) descoberto(s) e que haveria castigo pela sua(nossa) ousadia. De tal forma, que, para já, preciso de doses de leitura bem mais leves.

***

Comentários

  1. Eu não li o livro mas vi o filme. E nunca o esqueci. A atriz Kathy Bates, que interpreta Annie Wilkes, ganhou justamente o Oscar de Melhor Atriz em 1991 pela seu papel neste filme. James Caan representou o papel de Paul Sheldon, o escritor pelo qual ela estava obcecada.
    Para mim, ela ficou sempre colada a este papel Não consigo vê-la sem me lembrar deste filme e do papel que ela representou, o que não é justo porque ela é um excelente atriz. Mas basta ver o trailer para percebermos....

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