The Automobile Club of Egypt, Alaa Al Aswany
E se gostei destes livros sem reservas, já o mesmo não aconteceu com o The Automobile Club of Egypt. Confesso, no entanto, que é-me difícil falar ou escrever sobre ele. Por um lado, li-o com muito interesse e até expetativa, o que justifica que em dois fins-de-semana me tenha levantado às sete da manhã para vir para a sala, com o livro debaixo de um braço e um cobertor no outro. Custava-me interromper a leitura, o que se explica pela forma como o livro está estruturado, em capítulos curtos, deixando sempre uma história em suspenso. Como se se tratasse de um folhetim, contudo, a história permanece em suspenso durante alguns capítulos. Por outro lado, The Automobile Club of Egypt é, nalguns aspetos, muito hermético ou de difícil compreensão para um leitor não egípcio ou que não conheça a história recente daquele país.
Começando pelo princípio: o livro inicia-se com um capítulo em que o autor, Alaa Al Aswany, nos explica que se afastou de casa e da família para rever uma última vez o livro que estava a escrever e imprimi-lo. Apesar de nada alterar na sua última leitura, hesita na impressão e é então que toca acampainha. Abre a porta e na entrada estão um homem e uma mulher jovens. Apresentam-se referindo que são produto da imaginação do escritor. Explicam-lhe que o romance é bastante bom mas faltam-lhe algumas coisas, como os seus pensamentos e sentimentos. O autor pede-lhes que saiam, e eles deixam-lhe um CD, com uma versão do romance no qual gravaram tudo o que aconteceu nas suas vidas.
O capítulo seguinte (formalmente o primeiro capítulo) passa-se na Alemanha, quando o casal Benz inventa e promove o primeiro automóvel. O capítulo 2 já decorre no Egipto, numa época distinta (anos quarenta do século XX) no ambiente da Gaafar Family. O casal Abd el-Aziz e Ruqayya tem 4 filhos, Said, Kamel, Mahmud e Saleha. Kamel e Saleha são justamente as personagens que apareceram ao autor. Presumimos por isso que a história que nos é contada retrata não só os acontecimentos, mas também os pensamentos e sentimentos das personagens.
A família Gaafar era uma família com posses, do alto Egipto, mas a generosidade do pai tinha-os empobrecido e obrigado a mudar-se para o Cairo e levado o pai a trabalhar no Automobile Club, numa posição muito inferior àquela a que estava habituado. O clube é frequentado pelo Rei e por ingleses, e os trabalhadores, egípcios, são humilhados e maltratados frequentemente. Um dia Abd el-Aziz é sovado e a humilhação, mais do que a dor, abalam-no de tal forma, que morre nessa noite. Como as famílias dos trabalhadores egípcios não tinham direito a receber qualquer subsídio, conseguem que dois dos filhos sejam contratados pelo Clube, podendo desta forma continuar a estudar e a prover à subsistência da família. A morte do pai e a entrada dos filhos no mundo do trabalho leva-os a seguir caminhos diferentes, apesar da cumplicidade que se mantém e até se reforça entre Kamel e Saleha, a única filha. Kamel é envolvido na luta contra a colonização britânica.
Curiosamente, as críticas mais fortes ao domínio britânico são feitas numa discussão entre dois estrangeiros, amantes, Odette e James Right. Odette tem nacionalidade francesa ,embora tenha nascido no Egipto, e é frontalmente contra a ocupação inglesa, defendida por Churchill que a considerava um dever moral. James Right, britânico, gerente do Clube, considera que a ocupação britânica ajudou a modernizar o Egipto e traz a civilização aos bárbaros, como os indianos e os egípcios.
Os quatro irmãos seguem caminhos muito distintos. E tudo acaba em aberto, em suspenso. E se entendo que se deixe em aberto o final de cada capítulo, já me custa a entender que o The Automobile Club of Egyt acabe de forma tão abrupta, deixando as personagens a meio das suas histórias. Tentei mesmo confirmar se não haveria um segundo volume, mas não. Li uma recensão sobre o livro, que referia que suscitava reações muito diversas, muitas vezes de sentido completamente oposto (avaliações no Goodreads, na sua maioria escritas em árabe).
Os livros não têm de ter narrativas fechadas e mesmo quando parecem fechar com um fim, sabemos que pode haver continuação ou o fim pode ser apenas o início de outra ou mesmo de outras histórias. Mas neste caso sentimos que a história desta família, destes irmãos, foi interrompida por mero capricho ou vontade do Autor.
Apesar de tudo, pelas personagens, pelas vidas que nos são contadas, dificilmente conseguimos interromper a leitura do The Automobile Club of Egypt.
O livro, traduzido para inglês, foi-me trazido por um amigo que está no Egipto. Não se encontra traduzido para português. Não consegui aliás, encontrar livros de Alaa Al Aswany traduzidos para português.

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