Em Busca, Naguib Mahfouz (Caminho)

Em Busca
    Há dois anos li Khan al-Khalili e fiquei cheia de vontade de ler outros livros do autor, Naguib Mahfouz, que, em 1988, se tornou o primeiro escritor de língua árabe a receber o Prémio Nobel de Literatura.
     Ao contrário do que pensei, Em Busca foi publicado cerca de 20 anos depois de Khan al-Khalili que me pareceu uma obra mais madura, talvez pela complexidade da narrativa. Em Busca começa com a morte da mãe de Saber, um homem jovem, que fica então «só, sem amigos, nem trabalho ou família [...] sem nada a não ser uma esperança quimérica.» Antes de morrer inesperadamente, a mãe, que tinha passado cinco anos na prisão, confessa que lhe mentiu e que o pai de Saber não morreu. Como lhe diz ainda a mãe, ele tem de procurar o pai, porque senão a única alternativa que lhe resta é «tornar-se um proxeneta, um vigarista, um chulo ou um assassino.»
    Saber começa por procurar o pai em Alexandria e depois parte para o Cairo, instalando-se num hotel. O proprietário do hotel é um homem velho casado com uma mulher jovem, Karima, com quem Saber tivera um caso há alguns anos, mas cuja recordação perdurava ainda.

     «Tornaste-te uma senhora em todo o sentido da palavra. O que é feito daquela rapariga coberta de espuma salgada? O que é feito daquele cheiro de virgem pura?»

    A procura em vão do pai, o dinheiro que lentamente vai desaparecendo, a paixão que vive à noite com a mulher do proprietário do hotel e durante o dia com Elham, que trabalha no jornal, conduzem-no a um beco sem saída.

  As duas mulheres representam os dois caminhos que pode seguir e que no fundo já eram representados pelos seus pais:

   «[Elham] é como o teu pai, cheia de promessas, mas apenas uma quimera. Karima é justamente uma extensão da tua mãe. Representa prazer e crime.»

    Nesta encruzilhada em que não vislumbra uma terceira via, a escolha que Saber fará não é apenas por uma ou outra mulher, mas o abandono da quimera que o poderia resgatar.

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