Como um romance, Daniel Pennac (Asa)

  
Daniel Pennac "@ Clube de Leituras"
  Comprei este livro no sebo (expressão utilizada pelos brasileiros para se referir a livros comprados em segunda mão, já lidos, como me ensinou a Teresa Cristina) e, apesar de não ter nenhuma mensagem inicial, nem dedicatória, tem o carimbo de uma biblioteca (o que terá acontecido para se desfazer deste livro?) e as páginas ligeiramente amarelecidas pelo tempo e pela leitura. 
    Não resisti a comprá-lo, porque são deste autor os 10 direitos inalienáveis do leitor que não hesitámos em colocar no nosso blogue, porque os subscrevemos na totalidade, e por isso relembro-os aqui:
    O direito de não ler.
    O direito de saltar páginas.
    O direito de não acabar um livro.
    O direito de reler.
    O direito de ler não importa o quê.
    O direito de amar os “heróis” dos romances.
    O direito de ler não importa onde.
    O direito de saltar de livro em livro.
    O direito de ler em voz alta.
    O direito de não falar do que se leu.

   O livro trata exclusivamente deste tema, da importância da leitura e como se ensinam os outros, os filhos, os alunos, a ler e, sobretudo, a gostar de ler. O autor começa por nos lembrar que o verbo ler não suporta o imperativo, como o verbo amar ou sonhar. Pode-se tentar mas não funciona. E elenca todos os culpados do facto de os jovens lerem cada vez menos (será que é verdade?): a televisão, os jogos eletrónicos, a escola, o programa, a falta de bibliotecas...
    Mas avança mais e relembra como as crianças adoram quando lhe lemos uma história e procura o momento em que este prazer se perde e considera que provavelmente será na altura em que deixamos de ler a história porque a criança já tem idade para o fazer, e, mais tarde, na escola, quando o professor não lê os livros e se limita a recomendar a sua leitura. Recorda depois professores que liam livros aos seus alunos.
    Todos nós temos recordações pessoais, familiares ou de professores que contribuíram para o prazer da leitura. Não sei se passa pela leitura em voz alta. Acho que no meu caso passou sobretudo pela partilha. Lembro-me dos meus avós, dos meus pais e também de alguns professores que recomendavam livros ou autores que descobri com imenso prazer. Também me recordo de autores que ficaram proscritos até à atualidade por me terem obrigado (o programa de leituras) a lê-los antes de tempo. Ainda há pouco, umas amigas falaram-me da descoberta que fizeram do Aquilino Ribeiro  - e, em particular, do romance Casa grande - muitos anos depois de termos lido, contrariadas, Cinco réis de gente.
    Sublinhei uma frase do livro que me deixou a pensar:    
    "De facto, se psicologicamente nos sentimos mais próximos dos nossos filhos do que os nossos pais estavam de nós, inteletualmente falando nós estávamos mais próximos dos nossos pais."
    Será que é assim?

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