A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert. Joël Dicker (Alfaguara)

    Comecei a ler este livro porque vi os primeiros episódios da série, que me estava a prender, mas que, infelizmente, não consegui terminar. Além disso, se a série estava interessante, o livro devia ser espetacular! Isto porque nas adaptações televisivas há sempre pormenores que não cabem e que só temos acesso se lermos a história original.
     Assim que o comecei a ler, ouvi todo o tipo de opiniões: «o livro é espetacular», «o livro é uma desilusão», «o livro está a fazer imenso sucesso», «o livro é muito pobre», «se gostas da série, dizem que o livro está muito bom!», «esse livro?, a meio já tinha percebido tudo... só li o fim para confirmar»... O que ainda dá mais vontade de ler! Quanto mais não seja, para formar uma opinião. E formei-a. Adorei o livro por duas coisas em particular: a história e o foco sobre o processo da escrita.
    Quanto ao primeiro ponto, gostei imenso das mil e uma reviravoltas em que o leitor é apanhado, mas, acima de tudo, gostei da forma, como mais tarde, todos os pontos de unem, não deixando nenhuma ponta solta - e são inúmeras as perguntas que nos vão surgindo ao longo da leitura.
    Quanto ao segundo ponto, o romance inicia-se com um escritor em ascensão que, após o seu primeiro livro, tem uma mui severa crise de «página em branco» ou «bloqueio de escritor», que é o que leva a procurar o seu mentor e amigo em busca de ajuda. A par dos conselhos no «presente», cada capítulo é apresentado com dicas ou ensinamentos sobre como escrever um livro.

    Marcus Goldman, antigo aluno do famoso escritor Harry Quebert, encontra-se numa grave fase de «bloqueio de escritor» e acaba por pedir ajuda ao seu mentor, que o convida a passar uns dias na sua recatada casa em Aurora. Deliciado, Goldman aceita o convite, sem saber que tudo o que conhece sobre Quebert está prestes a ruir. Tudo começa a «[...] 6 de Março de 2008 [...]: descobri que Harry mantivera uma ligação com uma jovem de 15 anos, quando ele próprio tinha trinta e quatro. Acontecera por volta de 1975.»
    Mas a história está longe de ter terminado. A rapariga, Nola Kellergan, desapareceu sem deixar rasto nesse mesmo ano. E, subitamente, o seu corpo é descoberto no quintal de Harry Quebert, que fica doido de desgosto e, imediatamente preso, jura com todas as forças não ter matado o seu único amor.

    Afinal o que aconteceu no verão de 1975? Quem matou Nola Kellergan? Qual a natureza da sua relação com Harry e de que forma o levou a escrever o seu maior sucesso As Origens do Mal?

     Não resisto a partilhar a passagem seguinte, não só por ser um excelente conselho para futuros escritores, como por ter sido exatamente o que eu senti com este livro (e com alguns outros livros que me marcaram de alguma forma):

    «- Um bom livro, Marcus, não se mede apenas pelas últimas palavras, mas pelo efeito colectivo de todas as que as precederam. Cerca de meio segundo depois de terminar o livro, de pois de ler a última palavras, o leitor deve sentir-se dominado por um sentimento poderoso; por um instante, só deve pensar em tudo o que acaba de ler, olhar para a capa e sorrir com uma ponta de tristeza porque vai sentir a falta das personagens. Um bom livro, Marcus, é um livro que lamentamos ter acabado de ler.»

    A minha única crítica é para a forma como a história está organizada, ou seja, apesar de ter gostado imenso de o ler, gostaria de ter descortinado a intriga de outra forma. Senti que havia demasiadas mudanças de voz, demasiados «passados dentro de passados» (e eu até gosto muito do recurso à analepse). Mas não deixo de o recomendar!

***

Comentários

  1. Vi a série "A Verdade sobre o Caso Harry Quebert" mas não li o livro. Confesso que vi os primeiros episódios com imenso interesse, mas fiquei desiludida com o desfecho.
    Já li livros de que antes tinha visto a adaptação ao cinema ou, mais comummente, vi adaptações ao cinema de livros que já tinha lido, porque não me importo de saber antecipadamente como acaba, mas neste caso, fiquei com pouca vontade de ler.

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