Águas da primavera, Ivan Turguéniev (Relógio D' Água)

    Há livros que lemos, apressadamente, só porque não conseguimos parar de ler embora saibamos que devíamos  apreciá-los lentamente. Reler cada página antes de passar à próxima, mas em vez disso apressamo-nos a continuar. Foi assim que li este romance, Águas da primavera, sem parar. Confesso, contudo, que não sei  dizer exatamente o que o torna especial.
    No inicio do romance, o protagonista, Dmítri Pávlovitch Sánin, tem 51 anos e não encontra justificação para nenhuma das épocas da sua vida. Sofre com a perspetiva da velhice, da doença e da morte. Para afastar os pensamentos que o atormentam, mexe nas suas coisas e encontra uma pequena cruz guarnecida de granadas. Recorda então o que se passou alguns anos antes, no Verão de 1840, quando tinha 22 anos e, no regresso à Rússia, vindo de Itália, passa por Frankfurt.
    Termina por ficar em Frankfurt onde conhece Gemma por quem se apaixona, o irmão Emil e a mãe de ambos, uma família italiana ali radicada há já alguns anos. Conhece também Pantaleone, amigo e cozinheiro da família e antigo cantor de ópera.
    Gemma, que estava noiva, desfaz o noivado e aceita casar com Sánin que decide vender os bens que tem na Rússia para voltar e casar com ela. Há uma atração entre ele e aquela família que não passa apenas por Gemma. Mas as coisas não correm como planeado e é por isso que se encontra, anos depois, sozinho e a recordar o que fora a sua vida e o amor que sentira por Gemma.
    Consegue localizá-la e depois de lhe escrever, recebe uma carta dela:
    "(...)  Não ousamos descrever os sentimentos porque Sánin passou enquanto lia a carta. Não existe forma de exprimir tais sentimentos: são mais profundos e fortes, e mais indefinidos, do que toda e qualquer palavra. Talvez só a música os pudesse transmitir."
     Quando acabei de o ler, lembrei-me da frase de John Lennon, “Life is what happens to you while you’re busy making other plans", porque na vida de Sánin e Gemma a vida acontece em sentido inverso ou distinto do que eles vão planeando. Pareceu-me curioso o facto de o romance ser contado na perspetiva de Sánin. É a ele que acompanhamos e de quem vamos sabendo o que sente e sofre, o que não me parece muito comum para a época.
    Deste autor (cujo nome aparece como Turguénev ou Turguéniev) já tinha lido Pais e filhos, um romance mais reflexivo mas cuja leitura é igualmente apelativa.
    

Comentários

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)