As Filhas do Capitão, Maria Dueñas (Porto Editora)

                     
    Gostei muito de ler o livro "O tempo entre costuras" de Maria Dueñas, passado entre Marrocos, Espanha e Portugal, na primeira metade do século XX. Gostei igualmente de ver a adaptação ao écran desta obra, com a participação de atores portugueses e rodado parcialmente em Portugal. Os livros que Maria Dueñas escreveu e publicou entretanto não me seduziram, ou pelo menos a sinopse na contracapa - e as folhas que li furtivamente - não me interessaram.    
Afinal há tantos livros para ler e tão pouco tempo para o fazer....
    Mas este livro, "As Filhas do Capitão", pareceu-me distinto ou, por outra, mais idêntico ao primeiro. A ação decorre nos anos trinta do século passado, em Nova Iorque, onde chegam a mulher e as três filhas, adultas, de Emilio Arenas, que já tinha emigrado uns anos antes. Pouco depois de chegarem, o pai morre num acidente no porto e elas têm de sobreviver numa cidade que desconhecem e numa língua de que têm um conhecimento rudimentar.
   O início do livro está bem construído e agarra imediatamente o leitor. Quase conseguimos ver as filhas e a viúva, pobremente vestidas de preto, rodeadas de vizinhos e pessoas que mal conhecem, no velório e  funeral do pai. Desejam regressar ao seu país, mas antes querem honrar os compromissos do pai, pagando as dívidas que deixou, incluindo as passagens delas. São então informadas que têm direito a uma indemnização que a agência de navegação por sua iniciativa decide pagar e que inclui bilhetes de 1.ª classe de regresso a Espanha.
   Antes de decidirem o que farão, tudo se confunde com o aparecimento de um advogado italiano, mafioso, que se apresenta para lhes conseguir uma indemnização muito superior,  levando-as a confiar o processo da indemnização a uma freira - que tinha sido educada num bordel - e que se oferece para o fazer. O livro conclui-se quase 600 páginas depois e só no epílogo sabemos como se conclui este processo. Durante este período perseguem sonhos que se desfazem todos. Mas a dada altura a história enrola-se tanto que temos dificuldade em acompanhar, e quando acaba, ficam tantas pontas soltas que tem de as atar no epílogo.
    No meio deste enredo enrolado contactam sem saber com o Conde de Covadonga, herdeiro do trono espanhol no exílio. No livro "O tempo entre costuras", Maria Dueñas misturou com imenso imaginação personagens reais e fictícias, contudo, aqui não pareceu natural.

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