Memórias do Subterrâneo, Fiódor Dostoievski (Relógio d'Água)

 

   Memórias do Subterrâneo está dividido em duas partes: O Subterrâneo e Por Causa da Neve Húmida. Na primeira parte, o autor apresenta-se e, na segunda, surgem as suas memórias sobre alguns acontecimentos. Uma nota do Autor, logo no início, explica-nos que tanto o autor das Memórias como as próprias Memórias são fictícias, contudo, considera que pessoas como ele devem existir na nossa sociedade, embora sejam caracteres de um passado recente. Confesso que tive alguma dificuldade no início. Alguma estranheza. A leitura da parte inicial lembrava-me nalguns aspetos O Estrangeiro, de Camus, ou A Metamorfose de Kafka e li depois que foi inspirador destas obras:

   “Agora, meus senhores, quero contar-vos, queiram ouvir ou não queiram, por que razão eu não consegui tornar-me nem sequer um inseto. Digo-vos solenemente que muitas vezes desejei tornar-me um inseto. Mas nem isso mereci.”

    O autor começa por falar sobre si próprio, interrogando-se e respondendo a questões que lhe são colocadas pelos leitores, embora diga que escreve apenas para si próprio e que se se dirige aos leitores é porque assim é mais fácil escrever. Dele próprio diz que é um homem doente, mau, nada atraente e cobarde. Escreve na esperança de se libertar de algumas recordações e que, sendo a escrita um trabalho, o torne bondoso e honesto. Na segunda parte, sem deixar o registo pessoal e agora depreciativo dos outros (Quanto a eles, eram todos uns broncos e parecidos uns com os outros, como carneiros no rebanho.) conta-nos as suas memórias, como se queria vingar de um oficial que aparentemente nada tinha contra ele, a despedida do colega Zverkov, para a qual insiste em ser convidado e na qual é praticamente ignorado a que se segue uma ida a um bordel no qual conhece uma jovem, Liza. Tenta convencê-la a abandonar o bordel e voltar para casa dos pais e, antes de sair, deixa-lhe a morada. Quando ela o procura, três dias depois, ele fica embaraçado por ela perceber quão pobre e infeliz ele é. As suas Memórias acabam aqui, com a saída de Liza, depois de ele a seguir em vão.

    Estas memórias, em particular a história de Liza recordavam-me qualquer coisa e foi lendo a recensão num outro blogue que percebi que Taxi Driver, de Martins Scorcese, foi baseado nas Memórias do Subterrâneo. Ao contrário do que é habitual, o filme ajudou-me a perceber o livro, sobretudo a personagem encarnada pelo autor. A partir do momento em que o comecei a ver como o Travis Bickle (Robert de Niro) comecei a entendê-lo melhor.

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