O meu país inventado, Isabel Allende (Difel)

O meu país inventado isabel allende Clube de Leituras
    O meu país inventado estava arrumado entre os outros livros de Isabel Allende, com quem, confesso, já tive uma relação melhor. Apaixonei-me por vários dos livros dela, A Casa dos Espíritos, Eva Luna, Do Amor e de Sombra, Retrato a Sépia e Paula, mas os mais recentes desiludiram-me. Longa Pétala do Mar foi o último que li dela e, apesar de contar uma história extraordinária, não me apaixonei como aconteceu com os anteriores.

   Tenho o péssimo hábito de não dar nova oportunidade aos autores quando me desiludem. Talvez tenha sido por isso que O meu país inventado, que data de 2003, permaneceu tanto tempo esquecido na prateleira, a capa já um pouco amarelecida, sem ter sido mexida, mas, ao contrário do que esperava, gostei bastante de o ler. Reconheço, contudo, que não tem o fôlego nem a ambição dos primeiros.

    Enquanto o lia fui tendo a noção de que havia partes que já tinha lido, mas talvez seja porque se refere ou recorda excertos de livros anteriores. A sensação mais curiosa que tive, contudo, foi pensar que o que escreve sobre o Chile e os chilenos podia ser escrito sobre Portugal e os portugueses:

    “O conselho que dou ao visitante é que não ponha em dúvida as maravilhas que ouvir sobre o país, sobre o seu vinho e as suas mulheres, porque ao estrangeiro não se lhe permite criticar; para isso há mais de quinze milhões de nativos que não param de o fazer.”

     “Os Chilenos continuamos ligados à terra, como os camponeses que antes fomos. A maioria de nós sonha ter um pedaço de terra, nem que seja para plantar meia dúzia de alfaces.”

    Também achei curioso como escreve esta frase porque no início diz que durante muitos anos se identificava como chilena, latino-americana ou de sítio nenhum, mas que agora se sente americana. Escreve sempre na primeira pessoa do singular ou do plural (nós, chilenos), mas aqui começa por se distanciar referindo os chilenos (ou se calhar é um lapso de tradução a que eu dou um sentido que não tem).

    No início explica que escreve este livro por duas razões: porque o neto um dia ao vê-la olhar-se ao espelho, lhe diz para não se preocupar que ainda vai viver pelo menos mais três anos e, numa conferência, um jovem pergunta qual o papel da nostalgia na escrita dela.

    N’O meu país inventado escreve ao sabor das memórias, como elas lhes vão aparecendo, tentando dar-lhes uma ordem cronológica e organizá-las, mas centrando a maior parte no Chile, apesar dos poucos anos que lá viveu. A escrita do livro, como dirá no final, ajuda-a a compreender que não tem de tomar uma decisão quanto ao seu país ou nacionalidade, pode ter um pé lá (Chile) e outro cá (EUA), mas a sensação que tive foi que era uma dedicatória de amor ao país onde nasceu e cresceu e onde foi buscar as personagens e ambientes dos seus primeiros livros, o país inventado que existe na cabeça dela, segundo os netos.

    Mas não é de todo um livro nostálgico. Há momentos engraçados, comuns até:

    “Às vezes esqueço a passagem do tempo, porque por dentro ainda não fiz trinta anos; mas, inevitavelmente, os meus netos confrontam-me com a dura verdade quando me perguntam se no “meu tempo” havia eletricidade.”

    No final, quando fechamos o livro, fica uma enorme vontade de conhecer o Chile, com o deserto de Atacama a norte, onde descreve o manto de flores que irrompe na primavera, a sul, na fronteira com a Antártida, a ilha de Páscoa…e onde podemos esperar até encontrar as personagens que vivem nos livros de Isabel Allende.


***

Quero ler este livro!

Comentários

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)