Os Pioneiros, Luísa Beltrão (Editorial Presença)

   Há já vários anos que uma amiga, a Lucinda, me falava desta tetralogia. E eu ia adiando a sua leitura, com a desculpa que não tinha os livros. Afinal os livros vão-se acumulando e à medida que os empilhamos pela ordem com que os queremos ler, resistimos a introduzir outros pelo meio, atrasando leituras que gulosamente já antecipamos. Mas perante a promessa de que mos iria enviar, fui procurar na biblioteca dos meus pais, onde os encontrei. Como muitos outros que nem me recordava de ter visto e que me surpreendo por os encontrar, arrumados nas estantes que cobrem duas paredes, a maioria com marcas de leitura e sublinhados da minha mãe.
    Acabei de ler o primeiro volume, Os Pioneiros. Segundo nos explica na introdução, a Autora, Luísa Beirão, utilizou a memória da Tia Graça, que tem, na altura em que a escreve, 99 anos. A partir das personagens que ela introduz e que existiram, cria personagens de romance, numa tentativa de reconstruir as épocas, os acontecimentos de uma família desde o início do século XIX até aos nossos dias ou, como refere, uma história privada da gente portuguesa.
    E é nisso e no facto de ser único entre nós que reside o interesse e o encanto desta obra, pelo menos o seu primeiro volume. A estrutura é a mesma, cada personagem é apresentada pela Tia Graça e depois dessa apresentação inicial é construída a sua história. O primeiro capítulo de Os Pioneiros inicia-se com a chegada ao Brasil de Manuel Joaquim, ainda uma criança – 15 anos apenas -, onde constrói uma fortuna e acaba com o seu regresso a Portugal, à sua aldeia minhota, Meinedo, onde se apaixona e casa com a sobrinha, Ana, que termina por ser a figura central deste volume. Apesar de ser uma história privada, está muito bem alicerçada na história do país, na sua agitação durante a primeira metade do século XIX, não receando a Autora trazer algumas das grandes figuras nacionais para a sua história, em particular, Alexandre Herculano. E é assim que ficamos a saber de pequenas histórias deste último, descrito como «azedo, mal-humorado, acho que chegou mesmo a odiar o género humano».
    O que me parece que faltou neste livro foi uma revisão cuidada. Parece escrito ao sabor de uma conversa -  o que também lhe dá algum encanto – mas, noutras partes algum desconforto ou surpresa, como quando nos conta a história de Rosália, ajudante de cozinha, com 14 anos, com quem o filho João se metera e engravidara e, mais à frente, fala da descarada Rosália. Mas fiquei com interesse em ler os outros três volumes e saber o que acontece a estas personagens e como se irão acomodando às mudanças políticas e sociais do país.


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Quero ler este livro!

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