Quarentena - Uma História de Amor, José Gardeazabal (Companhia das Letras)

Quarentena Uma História de Amor
    Começo por fazer uma confissão: como não posso continuar a acumular livros, compro alguns que quero muito ler, e que ofereço, pedindo depois que mos emprestem. Foi o caso deste. Comprei-o depois de ter lido a contracapa, ofereci-o a uma grande amiga que, depois de o ler, mo emprestou. Penso que é preferível a lê-los primeiro e oferecê-los depois, o que também já fiz, confesso.

    A premissa de partida é fantástica:

    «Um casal, decidido a separar-se e de malas feitas, é obrigado pelas autoridades de saúde a uma quarentena. (…) Uma história de amor em 40 dias.»

    Como ambos confessam não estão apaixonados por outra pessoa, só não estão apaixonados um pelo outro. Se é difícil conviver dentro de quatro paredes durante dias seguidos, não imagino como será fazê-lo depois da decisão de separação (que presumo seja iminente e não eminente, como está logo no início). E mais difícil ainda será escrever sobre a situação que ou é de conflito aberto ou de silêncio e quase sempre de tristeza. Por isso o narrador, o homem do casal, cujo nome ignoramos, mas que sabemos que é «coordenador de intimidade na indústria do cinema», vai-nos fazendo circular pelas suas recordações, pela descrição do dia a dia ou ainda pelas suas divagações sobre cinema, fotografias ou astronautas. Intervala estas deambulações com pequenos diálogos com Mariana, muitos dos quais sobre a doença – nunca identificada. A distância vai-se reduzindo entre ambos, reduzidos ao convívio exclusivo durante 40 dias. A aproximação é feita de pequenos diálogos, toques, confissões, sinónimos e palavras cruzadas.

    A escrita é muito bonita:

    «Mariana chora como quem acorda num quarto no estrangeiro. Ela não sabe a palavra para abrir a porta e eu não sei a palavra para espreitar pelo buraco da fechadura. É como se Mariana nascesse inteira a chorar, no interior do quarto, e eu morresse, mudo e cego, do lado de fora. A nossa casa reveste-se de um branco imaterial, de vestido de noiva. Nos corredores, sobras de fantasmas.» (pg. 94)   

    Admito que o livro pudesse ter tido um outro sabor se o tivesse lido ainda confinada em casa e a trabalhar à distância, mas termina por ser um diário do nosso confinamento, porque vão aparecendo as notícias que fomos ouvindo, os medos e a esperança que todos partilhámos.

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Quero ler este livro!

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