cacimbados, a vida por um fio, Manuel Bastos (Babel editores)
Cacimbados, a vida por um fio é um livro sobre a guerra colonial. De acordo com a badana, em 1972 o Autor foi mobilizado para a ex-colónia de Moçambique, onde cumpriu o serviço militar obrigatório até ser ferido em combate, um ano depois.
Apesar de já ter lido vários livros sobre a guerra colonial, a leitura de os cacimbados impressionou-me muito. Capítulos curtos, narrados na primeira pessoa, mostram o horror da guerra e o medo que persiste e acompanha a vida de todos os que nela[s] combatem. A lotaria da guerra, o absurdo de morrer sem se dar por isso, mesmo aqueles que ladeiam os que morrem, impressionam quem lê os cacimbados.
A mensagem que Manuel Bastos quer deixar com este livro não poderia ser mais atual e importante nos dias que correm:
«Que este livro seja entendido como um apelo para que não caia no esquecimento uma guerra que poderia ter sido evitada, ou que pelo menos poderia ter sido terminada com honra e dignidade; para que não volte a acontecer que políticos corruptos, falsos diplomatas e estrategas convoquem o heroísmo genuíno dos vinte e poucos anos de um jovem para acudir à sua incompetência inoperante e à sua cobarde estupidez.»
O primeiro capítulo é sobre o momento em que ele, o Autor, é ferido, mas é sobretudo sobre a enfermeira que o acompanha na viagem de helicóptero. Sucedem-se depois capítulos curtos, quase parecendo crónicas, sobre a chegada a Moçambique, uma prostituta, que começa por lhe perguntar: «Que vos contam lá na Metrópole antes de vos mandarem pr'aqui?» e a chegada a Mueda onde lhe tiram as medidas para o caixão. Há muitas perguntas sobre o medo, a coragem ou a deserção que ficam sem resposta.
Sucedem-se depois histórias da guerra, contadas como se fossem escritas momentos antes de serem impressas. Como se tivessem acabado de suceder. Talvez por esta proximidade me tenha impressionado tanto.
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