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Princípio de Karenina, Afonso Cruz (Companhia das Letras)

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        Soube-me muito bem ler esta novela, Princípio de Karenina. Um livro simultaneamente leve e difícil. Em muitos momentos, poesia em forma de prosa:     « Havia breves e raros momentos em que a nossa casa sorria, quando de manhã a criada da Mealhada abria as janelas, para arejar a casa, e as cortinas esvoaçavam. Ou quando eu me reclinava nos acordes, como se fossem divãs, que a minha mãe tocava ao piano . [...]     Todas as noites, a minha mãe, ao inclinar-se sobre mim, parecia despedir-se. Acho que ela sentia mesmo isso, que por cada dia que passava havia uma parte de mim ou dela que ia embora.»     Conforme explica no final, este livro nasceu de uma viagem ao Camboja e ao Vietname, organizada pelo Centro Nacional de Cultura, em 2017, cujo objetivo seria encontrar vestígios de nós próprios pelo mundo, em lugares tão distantes como a Conchinchina. Conchinchina foi o nome dado pelos portugueses a uma região ...

A Boneca de Kokoschka, Afonso Cruz (Companhia das Letras)

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   Mais uma vez, apaixonei-me pela escrita de Afonso Cruz na primeira página - e, ao longo de todo o romance, lá fui dobrando os cantos das páginas onde encontrava passagens particularmente bonitas. Funciono assim. Leio com muito prazer frases bonitas, pela simples beleza delas e mesmo que, por si só, não constituam um acrescento à história que está a ser contada.    «Numa loja de pássaros é onde se concentram mais gaiolas. (...) E algumas estão dentro dos pássaros e não por fora, como as pessoas imaginam. Porque Bonifaz Vogel, muitas vezes, abrira as portas das gaiolas sem que os canários fugissem (...), desviavam os olhos da liberdade, que é uma das portas mais assustadoras. (...) A gaiola estava dentro deles. A outra (...) era apenas uma metáfora. Bonifaz Vogel vivia no meio de metáforas.»     Neste livro, que são dois (um livro dentro de um livro), e que se passa em três partes, a história é, na verdade um novelo que só se destrinça na última ...

Flores, Afonso Cruz (Companhia das Letras)

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   Na mesma "Festa do Livro" onde fui ouvir falar José Luís Peixoto sobre a sua peça " Estrangeiras ", adquiri este romance de Afonso Cruz.      Não conhecia nada do autor a não ser que a minha mãe já lera " O Pintor debaixo do Lava-loiças " e gostara muito. A mim, foi o excerto escolhido para figurar na contracapa que me cativou; e de tal maneira que, ao contrário do que sempre faço, nem precisei de ler o resumo da história.      Na altura em que comprei o livro estava a ler outro - e eu sou o tipo de leitora que não lê mais do que um livro de cada vez. Malgrado meu (ou, neste caso, bom) não o levara comigo por pensar que não teria oportunidade de o ler. Assim, quando tive de ficar a aguardar pela conversa, comecei a espreitar este romance novo. E fiquei imediatamente agarrada a ele. A escrita é lindíssima. Quatro folhas volvidas e começaram as dobras nos cantos, para assinalar passagens particularmente bonitas (« (....) quando penso nisso...

O pintor debaixo do lava-loiças, Afonso Cruz (Caminho)

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    Existiu mesmo um pintor debaixo do lava-loiças, na casa dos avós do escritor e foi esse o ponto de partida para esta história ficcionada e deslumbrante. Quando comecei a ler, veio-me à ideia Gonçalo M. Tavares, pela escolha da localização da história, mas à medida que fui lendo, tornou-se incontornável a associação ao Principezinho de Saint-Exupery. É-lhe aliás feita referência no título Em 1940 um aviador que pousou em Lisboa haveria de escrever: o essencial não se vê e, de alguma maneira, a descrição que faz da cidade quando o protagonista chega a Lisboa é coincidente com a constante de textos deste autor.    Ao contrário do principezinho, o protagonista desta história está atado à terra e vive os momentos dramáticos da 1ª Guerra Mundial nas tricheiras e o início da 2ª Guerra Mundial, passando por Bratislava, EUA e Portugal.    As personagens, descritas com traços largos, prendem-nos à leitura: a deslumbrante Frantiska, que enuncia regras qu...

Afonso Cruz

   O Almada Negreiros tinha razão. Nem preciso de entrar numa livraria, nem de contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida: Não chegam, não duro nem para metade da livraria.     Primeiro foram as listas dos 25 livros de autores portugueses da revista Ler (de outubro?) e eu a pensar que tenho/quero lê-los. Depois foi o jovem João Tordo e o menos jovem, Rentes de Carvalho, que me foram apresentados por vários leitores anónimos nos comboios da linha.  E na sexta-feira, soube pelo Bruno Pinheiro que um escritor português - Afonso Cruz - tinha ganho o prémio da União Europeia. Também não o conhecia, mas ele lê um texto e gostei muito.    Aqui vai o link para o filme que o Bruno colocou no You Tube. Vejam, oiçam e depois leiam. Eu vou fazê-lo:     Video