Mensagens

Acabámos de ler:

A Família Netanyahu, Joshua Cohen (D. Quixote)

Imagem
    O meu irmão, que habitualmente acerta nos livros que escolhe para me oferecer, deu-me A Família Netanyahu no Natal. Na altura a situação que se vivia em Gaza já era absolutamente chocante, mas ainda estava distante do horror dos números atuais. Hoje ficou-se a saber que nos quatro primeiros meses do conflito em Gaza foram mortas 12 300 crianças, mais do que as crianças mortas em todas as guerras combinadas de 2019 a 2022. E hoje também vimos na televisão o primeiro-ministro Benjamim Natanyahu recusar todos os apelos da comunidade internacional reafirmando que não parará.     Hesitei antes de começar a ler o livro e depois de o ler demorei vários dias antes de me decidir a sentar e a escrever sobre ele. O facto de ter ganhado o Prémio Nacional do Livro Judaico, para além do Prémio Pulitzer, ainda aumentou a minha hesitação. Porque razão o Prémio Nacional do Livro Judaico seria atribuído a um livro que não fizesse os leitores simpatizar com esta família ou pelo menos com o seu fil

Le viel incendie, Elisa Shua Dusapin (ZOE)

Imagem
       Não conhecia este livro, nem a Autora, Elisa Shua Dusapin. Filha de pai francês e mãe sul-coreana, nasceu em Paris, em 1992, onde viveu durante alguns anos. Atualmente reside numa pequena cidade na Suíça. Como ela própria refere, esta diversidade linguística e cultural ajuda a perceber a sua obra, em particular este último livro, «Le viel incendie». Tanto quanto consegui apurar, embora seja uma Autora premiada, nenhum dos seus livros foi traduzido para português, o que é de lamentar.      «Le viel incendie» recebeu o Prémio Wepler, da Fundação La Poste, e o Prémio Fénéon 2023. Como é dito na contracapa, depois de 15 anos de afastamento, Ágata, guionista em Nova Iorque, regressa à sua terra natal, Périgord, França, para, juntamente com a sua irmã mais nova, Vera, desmanchar a casa dos pais. Têm apenas 9 dias para o fazer, de 6 a 14 de novembro. As pedras da casa servirão para restaurar o pombal centenário de um vizinho, destruído por um incêndio antigo.     Até aos 15 anos, Á

Almas que não foram fardadas, Rogério Pereira (ed. Espaço e Memória - Associação Cultural de Oeiras)

Imagem
       A procura da correspondência entre pais e filhos durante o período em que os primeiros estavam em comissão na guerra colonial tem-me permitido conhecer muitas pessoas e partilhar com elas histórias e memórias. Nalguns casos, parte dessa memória já foi transposta para as páginas de um livro, como é o caso de «Almas que não foram fardadas», de Rogério Pereira. Como o Autor explica na contracapa, ele, a sua Alma e o seu Contrário nasceram no mesmo dia, cresceram e fizeram juntos o serviço militar. O livro, dedicado à mulher, filhas, netos e «aos filhos de todas as almas que não se fardaram nem se deixam fardar» relata a vivência como enfermeiro militar, em Angola, entre 1969 e 1971.     Logo a abrir o livro, no momento da partida, percebemos o papel que cada um desempenha: o próprio decide ir «aceitando a imposição que empurrava para a guerra tantos da minha geração», o Contrário contra-argumenta, considerando-o incoerente e recordando que sempre condenara a guerra. A Alma mode

Viajar na Maionese, João Pedro George (Edições 70)

Imagem
      Gosto de ler crónicas, com o ritmo próprio de cada uma e o capricho dos temas, desde as crónicas diárias do Miguel Esteves Cardoso, às crónicas quinzenais ou mensais, publicadas em revistas, do António Lobo Antunes (que desdenhava dos seus leitores), do Mia Couto ou do Agualusa. Gosto também de crónicas radiofónicas e fui uma ouvinte atenta dos Sinais, de Fernando Alves. Deliciei-me há uns tempos a ler as crónicas de Luiz Pacheco, juntas em Textos de Guerrilha , e de Maria Judite Carvalho, reunidas em Este tempo .     Foi por isso uma boa surpresa descobrir este Autor – dir-se-á croniqueiro? – e a enorme variedade dos seus temas, que vão do calão, que considera o santuário das palavras javardas, à gordofobia, à importância dos parêntesis, à sociologia do cabelo e da barba, à pandemia ou à presença do bidé na literatura portuguesa (antecedida de outra crónica com o título Glória ao bidé). Enquanto lia as crónicas sobre o bidé descubro que deixou de ser obrigatório nos novos proj