Basta-me viver, Carlos Vale Ferraz (Casa das letras)

    Carlos Vale Ferraz é apresentado na capa como Autor de «Fala-me de África» (que tenho de ler) mas para mim será sempre o Autor de «Nó Cego».
Este último livro, editado muito recentemente, tem como subtítulo "A história do órfão da foz dos rios" e é dedicado às Mães. Esta é uma história de amor absoluto de duas mães pelos seus filhos, mas é também uma história sobre o dever. Dos sacrifícios em nome do amor e das contradições do dever.
   O livro inicia-se com a morte dos dois avôs, Augusto Torres e Baltazar Gonzaga, respectivamente, avô paterno e materno do narrador. Augusto Torres era um homem do regime, salazarista, deputado da UN e ligado à legião. Baltazar Gonzaga era um homem central na luta contra o colonialismo e pela independência de Angola. Distantes nos princípios e objectivos, próximos na forma como se relacionavam com os outros e como os seus ideais se sobrepunham a tudo.
    Toda a história se desenrola na conversa entre o órfão e o tio, Ernesto Gonzaga, que acompanhou os últimos dias da sua mãe por quem tinha uma paixão, apesar do interdito resultante dos laços familiares. Ana Paula, a mãe é de facto a figura central do livro. A sua paixão pelo filho de Augusto Torres, a fuga para proteger o filho ainda não nascido, a decisão de se juntar ao exército de libertação, a vinda a Portugal reclamar o apelido do pai para o filho e, posteriormente a opção de se tornar pilota (existe o feminino de piloto?) de helicópteros conferem-lhe um lugar especial e permitem-lhe testemunhar não só a história recente dos dois países, mas sobretudo a evolução do papel da mulher.
    Ponto fraco é a o olhar claramente desiludido que o autor lança sobre as gerações mais recentes, o ensino e as opções de vida em contraponto com abnegação e o altruísmo da geração precedente.

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