O sonho do Celta, Mario Vargas Llosa (Quetzal)

"O sonho do Celta" relata a história de Roger Casement, nascido no final do século XIX, de pai inglês e mãe irlandesa. Cônsul britânico primeiro no Congo, depois na Amazónia peruana, em ambos os locais denuncia as atrocidades cometidas contra os indígenas na exploração da borracha.
O livro decorre entre os últimos dias que passa na prisão, antes de ser executado e à espera de uma possível comutação da pena, e a vida no Congo e em Putumayo (Peru), o regresso a Inglaterra e o seu reencontro com as raízes culturais e religiosas irlandesas. É nessa altura que defende que qualquer acção pela independência da Irlanda teria de ser articulada com a Alemanha que se encontrava então em guerra (I Guerra Mundial) com a Inglaterra. É preso quando desembarca em Inglaterra e o prestígio que tinha (o seu relatório sobre as atrocidades cometidas no Peru foi publicado pelo parlamento britânico e foi-lhe atribuído o título de Cavaleiro) não o salvou da execução. Para isto contribuiu quer o facto de ter defendido a aliança com a Alemanha, onde esteve para arranjar apoio em armas e homens, e ainda a sua vivência homossexual, escrupulosamente (fantasiosamente considera o autor), anotada nos seus diários (Black Diaries).

Mesmo os movimentos independentistas irlandeses demoraram a reconhecer o seu contributo para a causa irlandesa, pela recusa em combinar o defensor dos direitos humanos com o homem privado, homossexual assumido nos relatos que vai escrevendo.

Mario Vargas Llosa é magistral na forma como nos relata a vida deste homem, sem julgar ou analisar a sua vida e opções. No epílogo refere que "lentamente, os seus compatriotas foram-se resignando a aceitar que um herói e um mártir não é um protótipo abstracto nem um modelo de perfeições, mas sim um ser humano, feito de contradições e contrastes, fraquezas e grandezas, dado que um homem, como escreveu josé Enrique Rodó, "é muitos homens", o que quer dizer que anjos e demónios se misturam na sua personalidade de maneira intrincada".

Comentários

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)