Desgraça, J.M. Coetzee (Leya - Bis)

     Outro dos livros do curso online.
   Vencedor do Man Booker Prize em 1999 e Prémio Nobel da Literatura em 2003, foi o único livro de Coetzee que li.
    O livro segue David Lurie, um professor de Comunicação da Universidade Técnica de Cape, na Cidade do Cabo. Tem 52 anos e uma paixão na vida: mulheres. Quando se envolve com uma aluna e ela apresenta queixa, David é convidado a demitir-se, apesar das tentativas de ajuda dos seus colegas.

     «O crânio e depois o temperamento: as duas partes mais duras do corpo.»

  Vai viver com a sua ilha, Lucy, na propriedade desta em Grahamstown. A sua vida e até a sua atitude perante ela mudam substancialmente, sobretudo depois de um incidente de absoluta violência que recai sobre ambos.
    A relação que tentavam restabelecer como pai e filha, vivendo juntos, mas ambos na idade adulta, desmorona-se.

    «- Então ajuda-me. Trata-se de alguma espécie de salvação privada que estás a tentar obter? Esperas poder expiar os crimes do passado sofrendo no presente? [David]
    - Não. Continuas a não entender. A culpa e a salvação são abstrações. Eu não funciono em termos de abstrações. Enquanto não fizeres um esforço para compreender, eu não posso ajudar-te. [Lucy]»

  É um livro duro, cru e marcante, mas ao mesmo tempo muito bonito. Está escrito de forma maravilhosa.
    Não deixem de ler.

***

Comentários

  1. Gostei muito do livro. A personagem pricipal, David Lurie é um misógino de meia idade que tem de aprender a viver com a sua velhice e, simultaneamente, com as alterações sociopolíticas do seu país. Sem sabermos qual a sua posição perante o apartheid e o regime que lhe sucedeu, percebemos que há um esforço imenso de adaptação e de compreensão, que se esboroam perante os acontecimentos com que é confrontado. A grande dificuldade é perceber a forma como a filha reage ou se submete.:
    "Prefere esconder a cara e ele sabe porquê. Por causa da desonra. Por causa da vergonha. Foi isso que os invasores conseguiram; foi isso que fizeram a esta jovem confiante e moderna. Tal como uma nódoa, a história espalha-se pela região. Não a história dela, mas sim a deles: eles é que mandam. Como a colocaram no seu lugar, como lhe mostraram aquilo para que serve uma mulher."
    Mas é também o paradoxo vivido por um homem, que se absolve do relacionamento com uma jovem estudante invocando Eros (Eu fui um servo de Eros...) e cuja filha é depois violada.
    E é ainda a história de duas gerações pai e filha - que tentam conhecer-se e entender-se reciprocamente, acabando por apenas ceder e respeitar o outro.
    É um livro com enorme densidade e uma escrita perfeita (a reter o tradutor, José Remelhe, e a revisão literária de Ana Maria Chaves).

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