Mulheres fora da lei, Anabela Natário (Desassossego)
Depois de ler Crime e Castigo, quase a propósito, saboreei a leitura deste livro «Mulheres fora de lei». Apesar do subtítulo algo dramático – venha conhecer as maiores criminosas dos últimos três séculos em Portugal – o livro inicia-se com uma pequena nota da autora que lembra que o crime não é um exclusivo do homem, as mulheres, embora em menor número, também o praticam.
Cada capítulo é precedido
de uma ficha de identificação com o nome da mulher, idade, local de nascimento,
morada do crime, tipo de crime, vítima e data. Das 23 histórias contadas, 3
passaram-se no século XVIII, 12 no século XIX e as restantes no século XX. O
crime maioritário é o de furto, seguido pelo do homicídio, em regra, do marido.
Na minha leitura, duas histórias se destacaram, uma de uma verdadeira serial killer que ia buscar crianças expostas e as matava com requintes de malvadez – e matou 34 crianças, em 1772 – e a segunda, já no século XX, que, vestida de homem, tentou matar o seu chefe para vingar o irmão. Outro caso interessantíssimo é o da pintora Maria Josefa Garcia Seoane Greno que também assassinou o marido e que foi considerada penalmente irresponsável por Miguel Bombarda.
Na minha leitura, duas histórias se destacaram, uma de uma verdadeira serial killer que ia buscar crianças expostas e as matava com requintes de malvadez – e matou 34 crianças, em 1772 – e a segunda, já no século XX, que, vestida de homem, tentou matar o seu chefe para vingar o irmão. Outro caso interessantíssimo é o da pintora Maria Josefa Garcia Seoane Greno que também assassinou o marido e que foi considerada penalmente irresponsável por Miguel Bombarda.
Para além da natural
curiosidade do tema, e da respetiva apresentação, merece destaque a forma como
cada história é contada. Como refere a autora, são histórias verdadeiras, sem
sombra de ficção, porque assim se pretendeu. Nada de imaginação (embora possa
parecer). Nem precisa, porque muitas destas histórias em nada devem à
imaginação de um qualquer novelista e foram até fonte de inspiração para escritores,
poetas e mesmo realizadores de cinema. A começar por Isabel Xavier Clesse que
tentou envenenar o marido tendo a sua história sido contada por Camilo Castelo Branco, um século depois, e, anteriormente, por muitos outros escritores e poetas, íncluindo a Marquesa de Alorna. Como refere Anabela Natário trata-se de um caso insólito, não tanto pelo tema do adultério feminino, mas sobretudo pela decisão da ré de assassinar o marido, recorrendo a um tão ardiloso expediente. A severidade da sentença e o carácter espectacular de que se revestia na época o exercício da justiça ajudarão também a compreender a passagem do caso a tema poético.
Muita coisa mudou desde a época em que estes crimes foram praticados, contudo, provavelmente a maior alteração é ao nível da justiça, começando pela abolição da pena de morte a que algumas destas primeiras criminosas são condenadas.
Para além do voyeurismo que estes casos suscitam, mesmo decorridos tantos anos, a forma como os crimes são narrados e a apresentação da obra tornam a leitura deste livro um prazer.
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