A lebre de olhos de âmbar, Edmond de Waal (Sextante Editora)

  
O Diogo ofereceu-me este livro, de que nunca tinha ouvido falar. A capa, para além da imagem da lebre, ostenta a indicação que recebeu o Prémio de Biografia Costa Book Award 2010 e o Prémio Ondaatje Award 2011.
   O autor é, como diz a badana do livro, um prestigiado oleiro inglês, professor de Cerâmica na Universidade de Westminster. O pretexto para o livro é a coleção de pequenos bonecos de marfim e de madeira que o autor herdou de um tio residente no Japão, os netsuke. Decide então empreender uma viagem pelo tempo à procura do momento em que estes objetos foram adquiridos, as mãos por que passaram e as casa que adornaram.
   O livro e a saga desta família inicia-se em Paris em 1871. Tinham partido de Odessa alguns anos antes, de acordo com o planeado pelo então patriarca da família e estabelecido-se em Viena e Paris. Os palácios que construíram faziam parte do plano, estavam a "armar-se em Rothschild". Charles, um dos herdeiros, nascido ainda em Odessa, era um amante de arte e colecionador e é ele que, influenciado pelo fascínio que no final do século XIX a Europa sentiu pelo Japão - o japonismo -, adquire, entre outros objetos, os netsuke, 264 peças.
   Charles convive com Manet, Cézanne, Monet, Renoir, entre outros, e, aparentemente, inspira a personagem de Swann, de Proust. No final do século XIX já se sentia a má vontade contra os judeus que dominavam as altas finanças. Este sentimento foi exarcebado com o caso Dreyfus, que dividiu a França. A família do autor, os Ephrussi, são simultaneamente odiados como arrivistas e celebrados como mecenas.
   A segunda parte do livro decorre em Viena, entre 1899 e 1938, para onde os netsuke foram enviados como prenda de casamento de Viktor e Emmy. Viktor era primo direito de Charles.
   Esta parte do livro descreve nos primeiros anos uma vida de alta burguesia, mas já marcada pelo antissemitismo. Viktor e Emmy tinham guardado tudo, tinham ficado com tudo - todas essas riquezas, todas essas gavetas cheias de coisas, essas paredes cobertas de quadros -, mas tinham perdido o sentido dum futuro de múltiplas possibilidades.
   A primeira guerra é sentida por eles, mas não de forma dramática.
   A terceira parte do livro decorre igualmente em Viena, nos anos que antecedem e sucedem a segunda guerra mundial. A família Ephrussi perde tudo, mas todos sobrevivem, com exceção de Emmy que, depois de ser resgatada de Viena pela filha, se suicida. O que impressiona nesta parte é o zelo meticuloso dos nazis que roubam tudo mas contabilizam e descrevem minuciosamente tudo o que levam. Os netsuke sobrevivem nas pregas do vestido de Anna, a fiel criada que estava com a família há já vários anos e que por determinação dos nazis permanece na casa a ajudá-los a fazer o inventário. Leva-os a pouco e pouco da casa e coloca-os no interior do colchão, onde permanecem até depois da guerra, quando são restituidos a uma filha de Viktor e Emmy e avó do autor que os entrega a um irmão, Iggie, de partida para o Japão.
   A quarta parte decorre em Tóquio onde os netsuke permanecem até à morte de Iggie que os deixa ao autor.
   Através da procura da origem destes pequenos objetos somos levados numa máquina do tempo que nos relata a odisseia de uma família e simultaneamente a história da Europa Central no século XX. 



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